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Valor: “Concertação” reúne 100 líderes para “salvar” a Amazônia

Reportagem do jornal Valor Econômico fala de Concertação da Amazônia e reúne 100 líderes para “salvar” a região. Uma ampla aliança pela Amazônia está se formando entre donos e executivos de grandes empresas e bancos, pesquisadores, militares, economistas, políticos e ambientalistas. Batizada de Uma Concertação pela Amazônia, a iniciativa já reúne mais de 100 nomes interessados em entender a região, discutir como desenvolver seu potencial sem derrubar a floresta e melhorar a qualidade de vida da população. A intenção é construir pontes com o resto do país. Trata-se de mais um esforço do setor privado, da Academia e da sociedade civil de se organizar e debater diferentes visões para a Amazônia no vácuo deixado pelo poder público.

A iniciativa não é institucional e ainda não é propriamente um movimento, mas ganha força a cada reunião. Foi motivada por Guilherme Leal, sócio e co-fundador da Natura, uma das empresas pioneiras em negócios a partir da biodiversidade da floresta. Leal, que nasceu em Santos mas é filho de pai paraense, foi maturando a ideia antes ainda das queimadas de 2019, que produziram enorme reação mundial. “Não sei exatamente o que a motivou, talvez a radicalização das posições, mas aflorou claramente uma percepção de que existia um risco importante crescendo em relação à conservação da Amazônia”, diz.

Em fevereiro, alguns dos maiores empresários do país se reuniram em um almoço, em sua casa. Ali se encontraram o presidente do Itaú Unibanco Cândido Bracher e a esposa Teresa Bracher, o sócio e presidente da Fundação SOS Mata Atlântica Pedro Passos, Roberto Klabin e outros. Amigos envolvidos com esta discussão e esforço também foram procurados, como José Roberto Marinho, presidente do Instituto Humanize. Iniciou-se a partir daí uma série de aproximações de lideranças e formadores de opinião que estão criando uma visão sobre o papel da Amazônia no mundo e no Brasil.

Há consenso de que a discussão sobre a Amazônia deve ter mais densidade na sociedade brasileira, que é preciso debater modelos de desenvolvimento para a região e que é necessário colocar o mundo empresarial a bordo. “Eu não gosto de reinventar a roda e também não acredito que as grandes transformações e os desafios mais relevantes são enfrentados de maneira isolada”, diz Leal. “Queria entender as muitas entradas, quem são os stakeholders relevantes neste cenário, quem pode implementar uma visão que una mais conservação e produção.” Leal pediu ao seu time que mapeasse as iniciativas já existentes e que vem ganhando força nos últimos meses. São muitas e variadas. Há o movimento dos CEOs que assinaram carta endereçada ao vice-presidente Hamilton Mourão, que conduz o Conselho Nacional da Amazônia Legal, redes de pesquisadores reconhecidos que estudam a floresta, as recomendações de ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, o consórcio de governadores da Amazônia, as manifestações de líderes religiosos, as iniciativas de fundações de filantropia. Aflorou uma percepção de que existia um risco importante crescendo em relação à conservação da Amazônia” — Guilherme Leal, sócio da Natura e fundador do Instituto Arapyaú Se todas as iniciativas ficassem abaixo de um grande guarda-chuva, o resultado seria uma espécie de Frente Ampla pela Amazônia. Leal não usa este nome, diz que o que há, por enquanto, é apenas uma conversa entre esta miríade de grupos e pessoas interessadas na região amazônica. Não é sequer um movimento, embora tenha este potencial. Fundador do Instituto Arapyaú, ele se refere à iniciativa conjugando verbos no plural. “Não é minha, não tem dono”. Candido Bracher havia voltado de Davos impressionado pela preocupação do mercado e das lideranças globais com a emergência climática. O banqueiro começou a ter mais proximidade com a temática ambiental através dos projetos de conservação no Pantanal conduzidos há 15 anos pela esposa Teresa Bracher. “Tenho a impressão que neste esforço temos que aliar forças e construir consensos sobre a forma de preservar.” “Costumo dizer que precisamos transformar a Amazônia em uma questão de Estado, não de governo”. Ele faz um paralelo entre o desafio colocado pela contenção do desmatamento da Amazônia e o controle da inflação, no passado. “Aquilo era um flagelo e hoje não precisamos mais falar disso”, diz. “Sonho com o dia em que nenhum candidato à presidência terá que dizer que irá reduzir o desmatamento na Amazônia ou criar mecanismos de comando e controle.” Encontrar maneiras de ajudar os brasileiros mergulhados no drama da pandemia aproximou Bracher dos CEOs dos outros dois grandes bancos privados do país, Bradesco e Santander. Os três lançaram há um mês um plano para promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia. O presidente do Itaú Unibanco é claro: “Precisamos inverter este círculo vicioso onde estamos. A impressão que passa para o mundo é de descaso. Deste jeito, ninguém se anima a ajudar. Não se tem credibilidade se não conseguirmos reverter isso”.

José Roberto Marinho, presidente do Instituto Humanize, apoia e integra a movimentação em defesa da Amazônia olhando para as vocações locais e os ativos da sociobiodiversidade. “Investimos na região há mais de dez anos e reconhecemos que a construção da solução só poderá ser alcançada por um coletivo de organizações de múltiplas naturezas como o da Concertação pela Amazônia iniciada pelo Guilherme Leal via Instituto Arapyaú”.

“Acho que há um problema generalizado na abordagem da Amazônia, que é focar mais na questão ambiental”, diz Denis Benchimol Minev, diretor presidente da Bemol, uma rede de 24 lojas de departamento nos Estados da Amazônia Ocidental com 3.200 funcionários e sede em Manaus. Minev comanda um dos maiores negócios da região – a Bemol é o maior contribuinte de ICMS do Estado do Amazonas. “O desmatamento é o efeito colateral de um sistema muito ruim, que atrai maus empresários e expurga os bons”, diz.

Carmen Guerreiro

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