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Amazônia ganha espaço em discussões sobre o clima em Nova York

Foto: Arquivo Felipe Vilela

A importância da conservação e do desenvolvimento da Amazônia foi debatida em dois eventos na Climate Week NYC 2022, um dos maiores encontros do mundo sobre a questão climática. Em sua 14ª edição, a semana climática de Nova York retornou à modalidade presencial depois de uma interrupção por causa da pandemia de covid-19. A Climate Week – que ocorreu entre os dias 15 e 25 de setembro, paralelamente à Assembleia da Geral da ONU – é conhecida por focar no cumprimento das metas climáticas e na necessidade de aumentar os compromissos já assumidos. O tema deste ano voltou a ser “Fazer o que precisa ser feito”. 

Com uma agenda intensa de conversas em meio a atores de diferentes áreas, os representantes do Instituto Arapyaú e da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia presentes nos encontros reforçaram o papel do bioma na agenda climática global. O objetivo foi levar informações sobre o impacto do atual cenário da região e discutir maneiras de desenvolver o potencial da Amazônia como catalisadora da transição para uma economia de baixo carbono, que seja marcada pela geração de riqueza compartilhada, principalmente com os que moram na região.   

Brazil Climate Summit

O primeiro evento foi o Brazil Climate Summit, organizado pela Universidade de Columbia. Em sua primeira edição, o encontro teve mais de 550 participantes e já aparece entre os maiores sobre clima e setor privado já organizados. A avaliação da Concertação, diante da diversidade dos participantes, é de que o evento abriu caminho para a comunicação com um público menos presente nas discussões sobre clima. O encontro contou com a presença de empresários, investidores, empreendedores e formadores de opinião. 

Os painéis se caracterizaram pelo foco nas oportunidades provenientes da transição para uma economia de baixo carbono e não apenas no alerta sobre a necessidade de enfrentar as mudanças climáticas. O evento se configurou como um lugar de apresentação de soluções. 

Um estudo da consultoria Boston Consulting Group revelou, por exemplo, que o Brasil pode receber até US$ 3 trilhões em investimentos até 2050 para zerar as emissões de carbono. O trabalho aponta o país como um importante player verde no mundo, explicando como o Brasil está bem posicionado para ser um um líder global na busca de soluções climáticas. Um exemplo é a capacidade de geração de energias limpas como a solar, a eólica e a de biomassa. Outro é o reflorestamento. O país tem a maior área potencial do mundo para recuperação florestal.

Durante o Brazil Climate Summit, um dos painéis com maior destaque foi sobre a necessidade de fomentar uma mudança cultural em relação ao valor da Amazônia. Entre os debatedores estavam os integrantes da Concertação, o apresentador Luciano Huck e a liderança indígena Samela Sateré-Mawé, que também é participante do Programa de Fellows do Arapyaú. “Precisamos reflorestar nossas ideias, reflorestar mentes para que não precisemos reflorestar territórios”, disse a jovem no encontro.

“Amazônia: desafios e oportunidades”

Organizado pela Concertação, em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e o re.green, o painel “Amazônia: desafios e oportunidades como solução climática para o Brasil” fez um alerta para a necessidade de se enfrentar as tensões atuais na região, com fortalecimentos das políticas de combate a ilegalidades e ao desmatamento. A mensagem foi de que sem ação em relação aos problemas regionais, não será possível utilizar toda a potencialidade da Amazônia no desenvolvimento do país e na questão climática. 

A principal ameaça hoje à Amazônia é a coordenação entre narcotráfico, garimpo, comércio ilegal de animais, madeireiros ilegais. Estão armados, invadem territórios quando não há policiamento”

Rachel Biderman, cofacilitadora da Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura

Mas houve também o entendimento de que apenas a repressão à ilegalidade não é o suficiente para lidar com a questão amazônica. “Uma estratégia de conservação precisa abraçar a complexidade e heterogeneidade da região “, explicou Roberto Waack, cofundador da Concertação e presidente do conselho do Arapyaú. “Uma das missões da Concertação é desenvolver uma estratégia econômica que promova a conservação.”

Os debatedores concordaram que há a necessidade de que o setor privado invista em um projeto mais estruturante do desenvolvimento sustentável da Amazônia, com um “capital paciente“ direcionado para a região. 

A presidente do CEBDS, Marina Grossi, disse que o setor privado entendeu o que precisa ser feito e parte do empresariado já vem colhendo resultados. “Há como produzir e conservar. E o setor privado sabe disso. Podemos ter uma economia regenerativa. Já estamos fazendo a coisa certa e tendo lucro com isso.” Segundo ela, é necessário agora difundir a prática e o conhecimento. 

Bernardo Strassburg, do re.green, destacou que recuperar 10% da área degradada na Amazônia absorveria 1 bilhão de toneladas de CO2, mas ressaltou que a recuperação depende da participação das comunidades locais, uma vez que, além do conhecimento, é a população regional que se manterá à frente dos trabalhos ao longo do tempo. ”Precisamos das comunidades para implementar e manter em longo prazo as soluções baseadas na natureza.”

Plano dos 100 dias

A Concertação destacou ainda o plano que está preparando com foco na região, para ser apresentado aos governos eleitos no Brasil. O objetivo do documento é trazer propostas concretas de projetos de lei, decretos e normativas que possam ser aplicados no curto, médio e longo prazo. “Estamos endereçando diversas áreas no plano, como ciência e educação”, explica Waack, da Concertação, ressaltando que a ideia das ações é sinalizar que o país vai lidar com a questão da Amazônia. “O que estamos tentando fazer com o documento é reconectar o Brasil com o mundo.”

Carmen Guerreiro

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