Arapyaú 15 anos: uma história que só existe graças à soma de muitas outras

Foto: Banco de Imagens

“Arapyaú”, para os guaranis, representa o ato cósmico de renovar ou mesmo restabelecer o mundo. É uma ação simbólica, que procura recomeçar o mundo ciclicamente, impedindo-o de chegar ao fim e apagar sua sabedoria acumulada. Em 2008, buscando inspiração no conhecimento dos povos originários do Brasil, surgia o Instituto Arapyaú. 

De lá para cá, a trajetória do instituto revela, diariamente, que sua história só existe graças à soma de muitas outras. Nascido com o propósito de criar e incentivar projetos relevantes de desenvolvimento sustentável, o Arapyaú definiu, como principal eixo de atuação, fortalecer diversos atores capazes de gerar transformações na sociedade. Reverberar o bem por meio de diversas redes potentes é uma forma inovadora de praticar a filantropia e multiplicar os resultados.

Com esse jeito muito próprio de ser, o instituto está por trás da articulação de redes como a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, o MapBiomas, a Agência de Desenvolvimento Regional Sul da Bahia (ADR) e Uma Concertação pela Amazônia, além de outras iniciativas nascentes.

Incubadas no Arapyaú, essas redes estão em fases distintas de amadurecimento, algumas voando por conta própria e outras ganhando asas. O fomento vai além do mero aporte de recursos financeiros: o Arapyaú confere legitimidade às redes e promove conexões entre as organizações da sociedade civil, academia, governo, atores políticos e setor privado, a fim de alcançar transformações sistêmicas.

Para lidar com a complexidade

O instituto aposta na articulação de redes, com uma abordagem integrada, para lidar com temas complexos. A busca é por um ponto de equilíbrio entre uma atuação mais ampla e uma agenda local, porque entende que o “macro” sem o “micro” tende a se descolar da realidade. Ao mesmo tempo em que o “micro” sem o “macro” pode gerar boas iniciativas, mas que, sem escala, não são capazes de levar às transformações desejadas.

Hoje o Arapyaú alia um olhar mais específico a desafios de magnitude global, ligados principalmente à sustentabilidade e às mudanças climáticas. São questões que exigem esforços de diversos atores em diferentes lugares, com atuações conjuntas e coordenadas, em busca de objetivos comuns.

Um dos eixos de atuação do instituto é o de desenvolvimento territorial, voltado ao desenvolvimento sustentável a partir dos territórios. No sul da Bahia, há resultados significativos no campo da educação e na cadeia produtiva do cacau, enquanto na Amazônia se constituem projetos voltados à conectividade digital e à Ciência & Tecnologia. O outro eixo é o da bioeconomia, com foco na cadeia do cacau e na conservação produtiva inclusiva e restauração florestal.

Na cadeia do cacau, o Arapyaú identificou um vetor capaz de gerar impacto econômico, conservação ambiental e inclusão social, posicionando o Brasil como um pioneiro em modelo de conservação produtiva e inclusiva. De lá para cá, o país voltou a ocupar o ranking internacional de países produtores de cacau de qualidade, estando em sétimo lugar entre os maiores produtores e em terceiro quando o assunto é cacau especial. Nada disso foi obtido de forma isolada: o ecossistema do cacau na região é formado por 22 organizações parceiras do Arapyaú.

Filantropia internacional

Ser reconhecido como incubador de projetos estruturantes é uma grande conquista obtida neste ciclo de 15 anos. O instituto tem alcançado importantes fontes de captação, especialmente na filantropia internacional – sendo, inclusive, a única instituição filantrópica brasileira a participar do Funders Table. Ou seja, além de incubar redes, o próprio Arapyaú se vê como integrante de uma ampla rede filantrópica, com uma autonomia cada vez maior.

Graças à conexão de pessoas e, sobretudo, dos seus sonhos de transformação, a história que teve início no sul da Bahia irradiou Brasil adentro e mundo afora. Acreditando no poder da colaboração, com inovação, interdependência e busca de resultados concretos, o Arapyaú consolida sua identidade por meio da articulação de redes e se põe a vislumbrar o novo ciclo que começa agora, costurando as muitas histórias que estão por vir.

“Desde junho à frente da Diretoria-Geral do Instituto, tenho lidado ainda mais intensamente com a arte de tecer e coser nossas histórias, relações e atuações. Sigo a partir de um ponto em que muito já havia sido costurado, estruturado, planejado e realizado e olho com generosidade para nosso passado, acolho nosso presente e me permito lançar com otimismo para o futuro, certa de que todos os bons nós dados até aqui tiveram solidez.”

Renata Piazzon, diretora-geral do Instituto Arapyaú

“Vejo o Arapyaú como um parceiro de cocriação de soluções, um grande mobilizador e articulador. Junto com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o instituto foi essencial para a criação da Taboa. Foi um grande parceiro tanto no nosso desenvolvimento institucional, como no desenvolvimento de estratégias de apoio à agricultura familiar, especialmente o cacau, nos apoiando na criação de programas inovadores de crédito e ajudando a mobilizar parceiros que nos têm apoiado.”

Roberto Vilela, diretor-executivo da Taboa

“A minha trajetória com o Arapyaú começa em 2013, ano em que eu passei a integrar a RAPS, organização pioneira na qualificação de pessoas para a política, e que nasceu da capacidade do Arapyaú de criar e fomentar organizações e redes em diferentes campos. A relação se intensificou a partir de 2018, quando me tornei diretora executiva da organização e tem sido alimentada de maneira muito rica de lá para cá. É um imenso orgulho ser apoiada por uma filantropia brasileira, que entende desenvolvimento sustentável de maneira ampla a ponto de cuidar da cadeia do cacau na Bahia à Amazônia, passando pela dimensão política, e ser inspirado pela potência das construções em rede. Que venham os próximos 15 anos. O Brasil precisa do Arapyaú.”

Mônica Sodré, diretora-executiva da RAPS

“O Instituto Arapyaú, por meio do Programa de Fellows, me proporcionou diversas oportunidades, como participar das COP26, COP27 e COP28. Com isso, pude levar a narrativa de uma mulher jovem indígena da Amazônia para espaços que eram difíceis de serem alcançados. Também pude participar, como coautora, do livro ‘Inquietações do Brasil Contemporâneo: desafio das eras climáticas, digital-tecnológicas e biológicas’, uma experiência muito rica de troca  de conhecimentos, em que pude contribuir com a importância do imaterial. Por tudo isso, sou muito grata.”

Samela Sateré Mawé, ativista ambiental e integrante do primeiro ciclo do Programa de Fellows do Arapyaú