O Brasil ganhou um novo fundo de financiamento voltado para a agricultura familiar e regenerativa: o Kawá, uma iniciativa do Instituto Arapyaú, da Violet, da Tabôa Fortalecimento Comunitário e da MOV Investimentos, que pretende alcançar R$1 bilhão até 2030. O objetivo é valorizar os pequenos produtores de cacau, aumentar a produtividade e incentivar a conservação florestal. Na primeira fase, o Kawá beneficiará 1200 cacauicultores que adotam o cultivo agroflorestal do sul da Bahia e do Pará com R$30 milhões.
O Kawá, cujo nome remete a kakawa, palavra com a qual as civilizações pré-colombianas denominavam o fruto — foi anunciado no dia 21 de março, durante o Partnership Meeting, evento da Fundação Mundial do Cacau (WCF) que reuniu em São Paulo lideranças e grandes players do mercado.
“Com esse produto, queremos facilitar o acesso a crédito e à assistência técnica para os produtores de cacau, que estão à margem do sistema financeiro”, diz Vinicius Ahmar, gerente de bioeconomia do Arapyaú.
Construído no modelo blended finance, que conta com recursos de investidores de mercado, capital concessional, e de organizações filantrópicas, o Kawá se insere no mercado como um Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais). Sua metodologia de concessão de crédito aliada à assistência técnica foi desenvolvida e implementada pela Tabôa a partir de 2017.
O apoio técnico no campo contribui para o sucesso da aplicação do crédito, especialmente no caso de produtores de agroflorestas. “É assim que, além de estimular práticas agrícolas ambientalmente positivas, o fundo contribui também para o desenvolvimento socioeconômico das famílias agricultoras”, diz Roberto Vilela, diretor-executivo da Tabôa.
Ao receber o crédito, o produtor tem até 45 dias para realizar o investimento. Após esse período, são 36 meses de prazo para pagá-lo, com seis meses de carência, em média. As taxas de juros são de 12% ao ano. Os recursos são utilizados, principalmente, no custeio da adubação, irrigação, mão de obra, compra de equipamento e adensamento com mudas.
O projeto conta com a parceria da VERT, que será a administradora do fundo, e da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), com a sinalização da compra do cacau dos produtores beneficiados. A iniciativa inclui também um Enabling Conditions Facility (ECF) para financiamento da assistência técnica coordenado pela Violet, que também contribui com sua plataforma tecnológica proprietária para monitoramento e transparência na gestão do fundo, garantindo uma operação escalável, segura e eficiente.
Já a assistência técnica ficará a cargo da Fundação Solidaridad, do Ciapra (Consórcio Intermunicipal do Mosaico das Apas do Baixo Sul da Bahia) e da Polímatas Soluções Agrícolas e Ambientais, este último com o custeio realizado pela Suzano. A originação de crédito será liderada pela Tabôa, que também fará assistência técnica na Bahia. O Kawá conta ainda com a ReSeed, que será responsável pelos créditos de carbono gerados nas propriedades dos beneficiários.
Além da robustez e das metas ambiciosas, que lhe conferem um caráter inédito, o Kawá tem uma proposta inovadora ao incluir uma plataforma tecnológica para monitoramento dos dados dos agricultores, garantindo não só a eficiência operacional, mas a escala da iniciativa. “O Kawá foi pensado para ser um negócio escalável. Esse monitoramento tecnológico faz com que os investidores se sintam mais seguros e interessados em financiar os pequenos produtores sustentáveis”, explica Martha de Sá, fundadora da Violet.
Vinicius Ahmar destaca que essa linha de informações pode permitir destravar, no futuro, mais do que crédito com assistência técnica. A expectativa é que o histórico de operações do fundo influencie a adoção de modelos similares em outras cadeias e até mesmo a criação de políticas públicas para a agricultura familiar, com potencial de impactar muito mais produtores.
“Uma das frentes do Kawá será a construção de alianças estratégicas e a geração de conhecimento, com relacionamento com o setor público para alavancar tanto o acesso a recursos públicos com condições mais favoráveis, como para promoção de outras soluções de assistência técnica ou ações de regularização fundiária, por exemplo”, diz Ahmar. No que depender do Arapyaú e seus parceiros, a história está só começando.
CRA Sustentável entra em nova fase e capta R$23,6 milhões
Antes da criação do Fundo Kawá, a metodologia blended finance — modelo que combina diferentes fontes de recursos — já havia se mostrado bem-sucedida na emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) para a produção sustentável de cacau. Entre 2020 e 2023, o CRA Sustentável impactou positivamente mais de 270 famílias em 11 municípios do sul da Bahia, com resultados expressivos: aumento médio de 60% na renda dos produtores, inadimplência de apenas 0,28% e um crescimento impressionante de 52% na produtividade do cacau.
O modelo opera com garantia solidária, em que grupos de 3 a 10 agricultores tornam-se avalistas mútuos. Essa abordagem, implementada pela Tabôa, tem facilitado o acesso a crédito para agricultores familiares, fortalecendo cadeias produtivas de forma inclusiva.
Numa etapa mais recente, o projeto do CRA Sustentável para Cacau ampliou seu alcance para 25 municípios da Mata Atlântica e da Amazônia. Com duração prevista de cinco anos, a nova operação captou R$23,6 milhões: R$10,3 milhões por meio de CRAs e R$13,3 milhões por outras fontes, ambos de recursos advindos de investidores de mercado, instituições filantrópicas e organizações de impacto, como os institutos Arapyaú, humanize e Itaúsa, Fundação Solidaridad, Rabo Foundation (ligada ao Rabobank), e o BNDES — este último com um aporte de R$4 milhões.
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