O Centro de Inovação do Cacau (CIC) firmou parceria com duas empresas brasileiras de tecnologia do agronegócio para desenvolver ferramentas inéditas de classificação e rastreabilidade na cadeia do cacau. A rastreabilidade é uma questão chave nas cadeias de suprimentos, já a classificação pode representar um salto no desenvolvimento do mercado de cacau de qualidade, trazendo agilidade, precisão e padronização ao processo, que hoje ainda é muito manual.
Com o apoio da startup mineira Tbit, especializada em equipamentos para grãos, o CIC passou a classificar pela primeira vez as amêndoas de forma automatizada. A técnica de classificação utilizada atualmente em todo o mundo é mecânica e analisa forma, cor, textura, aroma, densidade e anomalias como mofo ou presença de insetos. Em geral, o trabalho de avaliação de um lote leva aproximadamente uma hora e meia. Com o novo equipamento, é estabelecido um padrão, cresce a precisão e o tempo da análise pode cair em mais de 50%. Para se ter ideia do volume, o laboratório do CIC faz 3 mil análises por ano. Isso significa uma economia de tempo de 2.200 horas.
Batizado de GroudEye, o classificador da Tbit foi criado originalmente para detectar defeitos em amostras de grãos como soja, arroz, feijão, milho e trigo. Após um ano de experimentações e adaptações no CIC, o equipamento recebeu um software capaz de analisar as amêndoas de cacau.
“Além de acelerar o processo de classificação, essa tecnologia vai nos ajudar a fazer um estudo inédito sobre o padrão do cacau brasileiro em parceria com as indústrias processadoras. Nosso objetivo é propor melhorias na Instrução Normativa 38/2008 do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), que estabelece o regulamento técnico para análise de amêndoas de cacau no Brasil”, revela Cristiano Villela Dias, diretor científico do CIC.
O equipamento também será de extrema importância na realização do Concurso Nacional de Cacau Especial: Qualidade e Sustentabilidade, uma vez que a análise físico-química das amêndoas é a primeira das três etapas de avaliação, que é executada pelo CIC em parceria com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Em sua quarta edição, o concurso deste ano fará a premiação em Belém, em 25 de novembro, e funcionará como etapa classificatória para o concurso internacional de Paris, o Cocoa of Excellence (CoEx).
A segunda parceria firmada pelo CIC ajudou a solucionar um desafio imposto recentemente pela legislação do setor. Desde o mês de julho deste ano, alterações no decreto que regulamenta a Lei n° 9.972, de classificação de produtos vegetais, instituíram normas e penalidades para assegurar a rastreabilidade do cacau. A pena inclui desde multa até a apreensão e suspensão da comercialização do produto fiscalizado. As tecnologias voltadas à rastreabilidade incluíam outras commodities, como algodão, soja, milho, tabaco, mas ainda não o cacau.
Junto com a TraceTech, o CIC adaptou a ferramenta para rastrear as amêndoas de cacau por meio da leitura de um QR Code nas sacas da matéria-prima. Ao ler o código, o aplicativo abre uma série de informações, incluindo dados da propriedade rural, do produtor, variedade do fruto, data de colheita, lote, embalagem e até resultados da classificação.
“Agora é possível saber todo o percurso até as amêndoas chegarem à indústria processadora. Esse sistema será implementado e gerenciado pelo CIC, enquanto nós entregamos metodologia, equipamentos e suporte técnico”, explica Flávio Tarasoff, diretor da TraceTech.
A rastreabilidade é hoje um caminho sem volta. Além das exigências legais, os próprios consumidores valorizam cada vez mais uma produção sustentável, livre de desmatamento e de trabalho degradante. “Essa preocupação não é apenas de europeus e americanos, mas de brasileiros também”, diz Anna Paula Losi, diretora executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). “No futuro, a rastreabilidade deixará de ser um diferencial para se tornar uma licença para operar. Ela é a ferramenta mais adequada para garantir confiabilidade ao processo, pois permite identificar não só a origem do produto, mas também trazer informações sobre quem – e como – produz e os caminhos percorridos até a gôndola do mercado.”
O Instituto Arapyaú foi um dos idealizadores do Centro de Inovação do Cacau (CIC), que começou suas operações em 2017. O CIC tem assumido um papel estratégico na valorização efetiva da amêndoa de cacau e do chocolate nacional bean to bar e ajudado a posicionar o Brasil na lista internacional de países produtores de cacau de qualidade. Seus clientes, como a Dengo e Natucoa, especializados em cacau especial, contribuem para fomentar essa demanda.
Na região, o CIC já realizou mais de 12 mil análises de amostras de cacau de cerca de 900 produtores. “Ao longo dessa nossa curta trajetória, já criamos uma série de projetos e seguimos apoiando a criação de novas tecnologias por meio de parcerias estratégicas. É assim que podemos contribuir para o aprimoramento e modernização dessa cadeia produtiva”, enfatiza Cristiano Villela.
Leia a matéria do Estadão sobre a iniciativa.
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