À medida que a tecnologia ajuda a desbravar a complexidade de informações dos ativos naturais brasileiros, ela proporciona um maior entendimento sobre o valor desse capital, com desdobramentos socioeconômicos. “No campo ambiental, há o benefício da conservação. No campo social, grande parte desse capital natural está relacionado às populações originais e tradicionais, que atuam na proteção das florestas e, muitas vezes, não usufruem dos resultados disso. Tudo isso leva a um desenvolvimento econômico muito mais conectado com os valores de sustentabilidade, que hoje são demandados no mercado do mundo inteiro”, explica Waack.
Outro potencial da IA para o país é a digitalização do patrimônio genético da biodiversidade. “Trata-se de transformar informação química de uma molécula de DNA ou RNA numa sequência de dados que caracterizam cada gene da nossa biodiversidade. Com uma riqueza natural tão imensa, é praticamente impossível fazer isso sem ajuda da tecnologia”, diz ele. Waack menciona que países como Suíça e Japão têm utilizado esse sistema de digitalização genética para aplicações na indústria farmacêutica. “O mundo tem interesse nessas informações, por isso, é um conhecimento estratégico para o Brasil. Se não tivermos esses dados, alguém os terá e ficaremos a reboque. Corremos o risco de sequer saber de todo o patrimônio genético que possuímos.”
Utilizar a IA no processamento de dados do capital natural dessa maneira inédita pode ainda modificar as dinâmicas geopolíticas, destacando o Brasil na esfera internacional e, ao mesmo tempo, possibilitando a distribuição de benefícios para as comunidades locais, principais guardiãs desse patrimônio. Mas o que falta para o país chegar lá? “Primeiramente, uma coordenação no âmbito do governo brasileiro sobre quem vai usar, quem vai liderar e quem vai cuidar do acesso a essa onda absurda de desenvolvimento tecnológico. No momento, não estamos bem preparados para entender o que significa a IA e tampouco temos capacidade de armazenamento de dados”, responde Waack.
De acordo com o presidente do Conselho do Arapyaú, os investimentos no Brasil para armazenamento de dados são da ordem de R$1 bilhão, enquanto apenas oito empresas nos Estados Unidos investem, cada uma, US$100 bilhões. “Nós precisamos de uma estratégia nacional para lidar com todos esses desafios. Hoje, temos mais de 10 ministérios e órgãos públicos envolvidos com esse assunto, mas que não dialogam. Só quando tivermos uma política nacional de IA coordenada poderemos entender qual é o papel da sociedade civil, qual é o papel das empresas e o do governo”, afirma.