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Como viabilizar a restauração florestal em larga escala no Brasil?

Foto: Ana Lee

Pouco tempo atrás, a agenda de restauração florestal era limitada a projetos isolados. Agora, essa agenda em larga escala começou a ser vista como uma oportunidade de negócios, com alto potencial de geração de impacto socioambiental. Além de preservar os recursos hídricos, do solo e da biodiversidade, essa prática é capaz de gerar retorno econômico, renda e emprego para as comunidades rurais envolvidas e de promover o desenvolvimento regional.

O Brasil, por sua dimensão continental e condições climáticas favoráveis, é apontado como o país mais preparado para contribuir globalmente com a agenda da restauração florestal em larga escala. No entanto, é uma indústria ainda em desenvolvimento que enfrenta desafios para a sua viabilidade. Assim como outros tipos de bioeconomia, essa prática necessita de políticas públicas, de instrumentos de investimento adequados e da monetização de benefícios sociais e ambientais. 

Em artigo publicado na Página22, Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú; Thais Ferraz, diretora executiva do Instituto; e Alan Batista, engenheiro florestal e CFA (Chartered Financial Analyst), apresentam um estudo feito a partir de uma imersão colaborativa nas modelagens produzidas pelo projeto Verena (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas), do World Resources Institute (WRI) com o objetivo de propor um modelo de negócios de restauração florestal em larga escala.

Com o apoio de especialistas das áreas financeira, ambiental e social, foram consideradas variáveis que vão de custos de implantação a estimativas de captura de carbono. Os cálculos foram feitos com base em casos reais nos biomas Amazônia e Mata Atlântica.  

O estudo trabalhou seis tipologias, com custos e resultados diferentes: 

  1. A regeneração natural passiva, que ocorre de forma espontânea, com intervenção restrita à proteção florestal;
  2. A regeneração natural assistida, que demanda intervenção, como o plantio adicional ou o enriquecimento de mudas ou sementes;
  3. A silvicultura biodiversa, que prevê o plantio de mais de uma variedade de espécies nativas, para o uso econômico no segmento da madeira para industrialização;
  4. Com o mesmo objetivo, a silvicultura de uma espécie, que prevê o plantio de uma única variedade;
  5. A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que mescla o plantio de espécies nativas para aproveitamento econômico de frutas e/ou madeira em áreas de pastagens;
  6. A tipologia dos Sistemas Agroflorestais (SAF), que envolve o plantio de culturas agrícolas de curto prazo, perenes e de espécies florestais nativas, com participação ativa de agricultores familiares.

Todas as tipologias requerem investimentos de longo prazo, com alto capital inicial, já que a entrada de receitas segue a taxa de crescimento da floresta. Com o objetivo de diminuir os riscos e reduzir pressões de custo, o modelo propõe a adoção de tipologias variadas e um calendário de implementação ajustado à disponibilidade dos recursos.

O modelo sugerido tem uma escala significativa: em torno de 1 milhão de hectares compostos por um mosaico das seis tipologias apresentadas. Essa magnitude por si só traz desafios inéditos, sobretudo em termos operacionais, fundiários e de regulamentação do mercado de carbono. Apesar dos obstáculos, a restauração florestal em larga escala é considerada fundamental para o país, tendo em vista os impactos sociais e ambientais, com destaque para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas e o potencial econômico de baixo carbono, associado à biodiversidade.

Carmen Guerreiro

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