Concertação pela Amazônia amplia discussão e olhar sobre a região ameaçada pelo desmatamento
Em um evento virtual com o tema “Sociedade e Cultura”, realizado no dia 27 de agosto, a pesquisadora Fernanda Rennó e o arqueólogo Eduardo Góes Neves foram enfáticos ao afirmar que não haverá futuro para a região amazônica se a sociedade não olhar o seu passado, a constituição de seus povos e sua agrobiodiversidade. O evento abriu uma série de webinars que será realizada em parceria da Concertação pela Amazônia com a Página 22.
“Nossa geração pode ser testemunha do processo de destruição da Amazônia. Se não fizermos algo já, o futuro é assustador”, disse Neves, sendo apoiado por Fernanda. “É essencial entender que existem pessoas diferentes e que vivem de formas diferentes na região amazônica, que foram modificando os espaços ao longo dos anos. Temos que respeitar e entender isso para tentar desenhar um futuro, sem esquecer do nosso passado”, ressaltou a pesquisadora.
O arqueólogo lembrou, durante a live, que a Amazônia deve ter uma política de Estado e não de governo, e que as regiões mais preservadas da floresta, conforme imagens espaciais, são os territórios indígenas.
Quem segura hoje o desmatamento são os povos indígenas. Claro que eles vivem no presente, mas são herdeiros de uma tradição cultural e tecnológica sofisticada que se iniciou há mais de 9 mil anos e que a nossa geração está assumindo a responsabilidade de destruir em poucas décadas”, falou Eduardo.
Fernanda Rennó também apresentou um estudo recente sobre as muitas populações e comunidades que ocupam a Amazônia e seu contexto histórico. Além dos povos indígenas, isolados ou não, e dos quilombolas, mapeou ribeirinhos, extrativistas, assentados, garimpeiros, e população urbana. “Na Amazônia Legal existem áreas de floresta, áreas onde não existe mais floresta, e áreas onde a floresta nunca existiu. E sobre esses espaços, preservados, protegidos ou convertidos, vivem e trabalham pessoas que constroem diferentes relações”, disse ela. “É importante desmistificar a região, respeitar e entender. Não tem como pensar no futuro sem o passado”.
A Concertação pela Amazônia é uma ampla aliança, em formação, que envolve a iniciativa privada, a academia e a sociedade civil. O interesse comum é ampliar a discussão de como desenvolver o potencial da região amazônica, em vários aspectos, sem derrubar a floresta e com melhoria da qualidade de vida da população local. A intenção é a construção de um diálogo da região com o resto do país.
A importância da iniciativa, nacional e internacionalmente, foi destacada em manchete do jornal Valor Econômico, no 26 de agosto de 2020, com o título “Concertação reúne 100 líderes para salvar a Amazônia”.
Aflorou uma percepção de que existia um risco importante crescendo em relação à conservação da Amazônia”, disse à reportagem o empresário Guilherme Leal.
A íntegra do evento virtual “Sociedade e Cultura” pode ser conferida no link: https://pagina22.com.br/youtube/. Confira também o estudo da Fernanda Rennó que foi apresentado durante o debate: bit.ly/fernandarenno