A cultura, entendida de uma maneira ampla — como modos de vida, modos de fazer e de representar — é um componente essencial na construção de ações de desenvolvimento sustentável. Esse é um dos pilares da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia. Dentro dessa perspectiva, a rede decidiu fazer parte da nova feira da SP-Arte: Rotas Brasileiras, um dos mais importantes eventos do mercado de arte nacional.
Com curadoria do pesquisador, fotógrafo e jornalista Eder Chiodetto, a Concertação convidou seis fotógrafos para ocuparem um espaço de 100 m² com diferentes visões sobre a região. O objetivo foi aproximar as várias Amazônias do restante do país. “Nossa ambição foi mostrar a multiplicidade de representações da região e valorizar o trabalho de artistas locais que vêm nos ajudando a atualizar o imaginário sobre a Amazônia”, diz Fernanda Rennó, facilitadora dos Grupos de Trabalho de Cultura e de Educação na Concertação.
Fizeram parte da mostra no Galpão ARCA, no bairro Vila Leopoldina, em São Paulo, os fotógrafos Paula Sampaio, Marcela Bonfim, Rogério Assis, Edu Simões, João Farkas e Lalo de Almeida. Uma Concertação pela Amazônia é uma rede com mais de 500 lideranças — entre representantes dos setores público e privado, academia, sociedade civil e imprensa — criada em 2020 como um espaço democrático de discussões na busca de soluções para o desenvolvimento sustentável da região.
“Para se aproximar de um território, além da racionalidade e dos aspectos técnicos, é preciso sensibilidade”, explica Fernanda. “A Amazônia vai além de desmatamento e não-desmatamento. O que nos ajuda a (re)conhecer tudo que existe entre esses dois pontos, escapando dessa visão polarizada, é justamente essa teia sociocultural. Para a Concertação, não é possível falar de sustentabilidade sem se apoiar na arte e na cultura”.
Em uma rede formada por integrantes das mais diversas áreas em busca de convergência, e não de consenso, a arte também facilita os diálogos. “A arte é uma potência, todos os encontros e ações da iniciativa são marcados pela presença de artes e de artistas locais”, reforça Fernanda.
A curadoria da exposição foi do pesquisador, fotógrafo e jornalista Eder Chiodetto, em conjunto com um colegiado formado por fotógrafos e pelas equipes da SP–Arte e da Concertação. “Ao final, com a definição das obras de cada um, criou-se uma constelação com um forte viés documental sobre o momento distópico da Amazônia”, afirma Eder.
A SP-Arte: Rotas Brasileiras reuniu múltiplas linguagens artísticas e trouxe projetos e coletivos que têm em suas propostas representação das cinco regiões do Brasil. Para Fernanda Feitosa, fundadora e diretora da SP-Arte, a iniciativa da Concertação vai ao encontro do desejo da feira de valorizar a produção artística e os novos enfoques sobre a Amazônia. “O olhar desses artistas se soma a nomes consagrados da fotografia como Pierre Verger, Sebastião Salgado ou Mario Cravo Neto, formando uma costura em que se entrelaçam diferentes visões sobre o Brasil”, afirma.
Nascido em Belém, o fotógrafo Rogério Assis, presente na exposição com retratos contrastantes de um mesmo território — beleza natural x destruição —, reforça a importância do diálogo entre a causa socioambiental e as artes. “É muito significativo ter um espaço para discutirmos, através da fotografia, a necessidade da conscientização para a preservação socioambiental com um público como o da SP–Arte”.
Baseada em Rondônia há 11 anos, a fotógrafa Marcela Bonfim espera abrir com sua obra diversos caminhos para o território. “A Amazônia é múltipla. Mais do que afirmar algo sobre ela, a expectativa é que a gente levante questões. O próprio território consegue dialogar e tem a legitimidade e a capacidade de falar por si, nós [artistas] vamos desenvolvendo formas de criar mais fluidez nessa comunicação”.
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