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Encontro discute financiamento e papel do Brasil nas agendas de clima e natureza

Professora da Universidade de Oxford, Rachel Kyte é uma das maiores especialistas em financiamento climático do mundo. Crédito: Fernando Cavalcanti

O futuro chegou hoje, e a ciência agora está analisando fenômenos no mundo que pensávamos que viriam na próxima década. E se você ouvir os cientistas, incluindo aqueles que aconselham fundos de hedge (tipo de investimentos alternativos) e algumas casas de investimento, eles estão aterrorizados com o fato de que nossos modelos erraram e com o fato de que ainda não sabemos qual será o impacto real do aquecimento dos oceanos. 

Esse foi um dos alertas trazidos pelos participantes de um encontro fechado promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) em parceria com o Instituto Arapyaú, que ocorreu no fim do mês de agosto com três especialistas de peso: Rachel Kyte, professora da Universidade Oxford e uma das maiores especialistas em financiamento climático do mundo; Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, fellow do Instituto Arapyaú e companheira de jornada da britânica na ONU; e Marcelo Furtado, head de sustentabilidade da Itaúsa e membro do conselho da Nature Finance. O diálogo foi mediado por Lívia Pagotto, gerente de conhecimento do Instituto Arapyaú.

A proximidade do chamado ponto de inflexão climática, com consequências catastróficas para a humanidade, vai exigir mobilizações em várias frentes. Novas coalizões para ações urgentes em um contexto em que o multilateralismo se encontra enfraquecido, uma revolução na arquitetura internacional financeira e uma liderança corajosa e visionária, possivelmente originada de uma nova e diversa geração de líderes globais, com o Brasil assumindo um papel importante no cenário internacional.

Segundo os participantes, o mundo vai ter de pagar por tudo isso em um momento em que já estamos vivendo o futuro em termos de impactos, e esses impactos já estão corroendo o Produto Interno Bruto (PIB) das economias mais avançadas, especialmente a americana. 

A disponibilidade de recursos para o financiamento não é o problema. A questão, como foi dito no encontro, é que os recursos estão sendo desperdiçados e a sociedade está agindo mais devagar do que o necessário. 

Nova ordem mundial

O clima tornou-se parte do novo jogo geopolítico e é importante compreender a nova ordem internacional e os novos mapas globais para gerenciar a chamada policrise. A expressão que se consolidou no mercado internacional nos últimos anos e explica o caráter ao mesmo tempo múltiplo e único dos desafios que a humanidade enfrenta, como a emergência climática, o crescimento das tensões geopolíticas, o enfraquecimento das democracias e o surgimento de novas doenças.

Em relação ao papel do Brasil nessa nova ordem mundial, levantou-se um desafio inédito. O país, que costumava ser um ator importante na agenda do uso da terra, terá de trazer também questões econômicas para o debate internacional sobre mudanças climáticas, uma vez que o controle do desmatamento é uma agenda circunscrita à fiscalização. Para os participantes, o Brasil precisa tomar decisões estratégicas para garantir seu papel na segurança energética global. Não é por ter o mix energético que o mundo quer alcançar até 2050 que o país pode esperar pelo futuro. É preciso preparar uma transição energética ambiciosa, sem zonas de conforto.

Natureza no PIB

O momento atual, com o Brasil na presidência do G20 e perto de sediar uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climática, a COP 30, na Amazônia, mostra-se também como uma oportunidade para o país liderar um movimento de inclusão do valor do capital natural nas contas econômicas internacionais. Devemos garantir que o esforço para colocar o valor da natureza no cenário internacional – seja na missão de bioeconomia, no grupo de trabalho de finanças sustentáveis ​​com a perspectiva de soluções baseadas na natureza, ou no grupo de trabalho para as alterações climáticas – seja certeiro e bem-sucedido.

No entanto, ainda há muitas incertezas sobre como esse sistema de inclusão da natureza nas agendas financeiras poderia ser implementado globalmente, em especial para países com matrizes energéticas mais sujas.

A partir do diálogo, concluiu-se que uma das principais maneira de incorporar o valor da natureza ao PIB é estabelecer um preço mínimo para o carbono baseado na natureza, que seja compatível com o carbono baseado em energia renovável (que hoje é mais valorizado), implementar padrões de alta qualidade e garantir que os países ricos em natureza sejam duros nesses pontos. 

Os especialistas chegaram a um consenso de que ainda não há ferramentas para a inclusão da natureza no PIB, mas que o mercado deve entender a natureza como um sistema complexo, cheio de incertezas – assim como são cercadas de incertezas as operações de alta frequência na bolsa (high frequency trading). É preciso reimaginar a economia. Precisamos de uma economia positiva para o clima, a natureza e as pessoas, provocou um dos participantes.

Giulie Carvalho

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