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Entrevista: Blended finance – a parceria da filantropia com o mercado financeiro

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Foto: P.Y.L/Unsplash

Provocadas a ampliar o impacto de suas ações, algumas instituições começaram a repensar o modelo tradicional de atuação filantrópica, baseado em apoio a projetos específicos. Nesse processo, o caminho encontrado por muitas delas tem sido o blended finance, ou financiamento híbrido, modelo que combina capital filantrópico ou de fomento com investimento privado, bem nos moldes do adotado na experiência do CRA Sustentável.

O modelo foi o assunto de um artigo escrito pelas diretoras do Arapyaú, Thais Ferraz e Renata Piazzon, e pelo presidente do Conselho do instituto, Roberto Waack e publicado pela Página22 (leia aqui). Nessa entrevista, Thais avalia a aplicabilidade desse modelo e os desafios para o blended finance. 

A seguir, os principais trechos da entrevista:

1 – Como a filantropia e o mercado financeiro podem aumentar o impacto socioambiental dos negócios? Qual é o papel de cada ator nessa equação? 

A parceria da filantropia com o mercado financeiro pode envolver diversos formatos de apoio à aceleração de negócios de impacto, desde o capital-semente e a construção de mecanismos de acesso a crédito, até a assistência técnica, o desenvolvimento de capacidades e o incentivo à pesquisa e desenvolvimento. Nesse modelo, o capital filantrópico assume o papel de reduzir riscos para a atração de capital de mercado e, dessa forma, amplia os impactos desejados. 

Hoje, o que se tem é: de um lado, o mercado avaliando os negócios com modelagens que ignoram externalidades positivas e negativas. Do outro, a filantropia investindo com foco no impacto desejado, mas com exigências menores em relação à escala da iniciativa. Combinar a alma da filantropia com o espírito investidor só é possível com uma via de mão dupla: instituições e fundações se abrem para o viés de estruturação de negócios com maior escala e sustentabilidade financeira, enquanto os negócios se abrem para o recebimento de recursos filantrópicos e reportam o impacto gerado. A troca de conhecimentos entre esses dois setores pode ser poderosa e ampliar o impacto desejado. Oportunidades nesse modelo têm crescido, especialmente em negócios ligados à bioeconomia e economia da restauração associada à descarbonização de setores industriais.

2 – Ainda se vê resistência tanto da filantropia quanto do capital privado a esse tipo de mecanismo no Brasil? Como isso tem evoluído nos últimos anos e quais desafios temos pela frente?

Eu vejo que os mecanismos de blended finance estão em crescimento e eles são fundamentais para conseguirmos fazer a transição para os modelos de negócios sustentáveis. No investimento em bioeconomia, a presença de uma entidade filantrópica de confiança reduz incertezas dos investidores. No caso das externalidades ainda não monetizáveis, o aporte da filantropia é ainda mais relevante, pois pode endossar a iniciativa em questão, dando concretude ao tema socioambiental promovido e mitigando riscos reputacionais para o investidor. O principal desafio é ir além do investidor de impacto, que já entrou com força nessa agenda. 

3 – O CRA Sustentável do cacau foi o primeiro do tipo lançado no Brasil. Que outras experiências servem de inspiração para blended finance?

Um exemplo emblemático é o caso da indústria de energia solar, que começou de uma forma muito subsidiada por capital público e privado para que conseguisse avançar. No início, existia um desafio tecnológico a ser vencido. Com o tempo, ao se mostrar uma tecnologia viável e começar a atrair investimentos, diminuiu-se a quantidade de capital filantrópico e aumentou a quantidade de capital de mercado. Agora já é uma indústria consolidada, mantida com investimentos de mercado.

O caso do cacau tem algumas similaridades, pois a produção no modelo cabruca, que conserva a Mata Atlântica e gera benefícios ambientais, ainda não gera remuneração adicional aos pequenos produtores, portanto tem desafios de viabilidade econômica. No entanto, essas agendas têm avançado principalmente pela valorização do carbono. Além disso, as empresas assumem compromissos sociais e ambientais, o que implica em ter rastreabilidade e olhar para os impactos de suas operações. É fundamental termos políticas e investimentos públicos para garantir a transição de negócios e cadeias sustentáveis — assim como foi no caso da indústria de energia solar. Acredito que o cacau pode seguir um caminho parecido.

Leia aqui o artigo completo publicado na Página22.

Carmen Guerreiro

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