Estudo traça panorama da cacauicultura no litoral do sul da Bahia

Estudo traça panorama da cacauicultura no litoral do sul da Bahia
Barra Grande, parte da Costa do Cacau, no sul da Bahia

A região sul da Bahia é conhecida por sua beleza natural, riqueza litorânea e também pela atividade cacaueira que, por mais de 200 anos vem atribuindo uma identidade ao território. Essa característica da região, porém, é pouco estudada e a falta de informações sobre a atividade local dificulta, muitas vezes, uma melhor gestão e tomada de decisão por parte da indústria e do setor privado, assim como para orientar a construção de políticas públicas adequadas aos produtores. 

Para reverter esse cenário foi realizado o estudo Panorama da cacauicultura no território Litoral Sul da Bahia – 2015/2019, pelo Instituto Floresta Viva com apoio de diversas organizações, entre
elas CocoaAction Brasil e Arapyaú.

Ao longo de quatro anos, o relatório analisou a base de dados construída a partir dos setores censitários rurais do IBGE e com a realização de entrevistas com 3.090 produtores rurais em 26 municípios do Território de Identidade Litoral Sul da Bahia (TILSB). 

Mas qual é o real cenário da região cacaueira e seus desafios?

Os dados comprovam que os problemas a serem enfrentados ainda são muitos e irão demandar soluções integradas e em várias frentes, por isso a importância da união da cadeia produtiva do cacau para a solução dos inúmeros desafios apresentados para o desenvolvimento e a inovação dessa cadeia produtiva.

O sistema cabruca é o principal modelo produtivo de cacau na região, cultivado por 78% dos produtores do sul da Bahia, enquanto 8% variam com SAF e 8,7% cultivam em pleno sol. Por outro lado, apenas 20% realizam a fermentação da amêndoa entre 5 e 8 dias, o que garante a qualidade do cacau que é vendido e, consequentemente, maior valor agregado.

Quanto ao uso e ocupação do solo, nos estabelecimentos existe a predominância da lavoura de cacau (32,6%), seguido pelos pastos (24,8%). A média da área ocupada por lavouras de cacau é de 12 hectares por estabelecimento, com 50% dos estabelecimentos com áreas superiores a 5 hectares de cacau.

Entre os produtores, chama a atenção o nível de escolaridade e de acesso a crédito: mais de 58% têm somente o ensino fundamental incompleto, sendo que destes 11% nunca estudaram, e 63% afirmaram nunca ter tido crédito para a produção. A comercialização do cacau é predominantemente para os armazéns (69%), atravessadores (19%) e para as indústrias de processamento (12%). Na média do território, o cacau representa 79% da renda dos estabelecimentos rurais, sendo que 50% dos estabelecimentos possuem renda mensal abaixo de R$ 1.606.

Um dos capítulos trata das condições de trabalho e moradia, dos proprietários e dos trabalhadores: 78% dos produtores possuem energia elétrica em seus estabelecimentos, mas apenas 29% são contemplados com redes de água e esgoto e 77% possuem esgotamento sanitário por fossa rudimentar. 

A amostra tem nível de confiança de 95% e margem estimada de erro de 2,22 pontos percentuais para mais ou para menos, sob os resultados gerais. 

Acesse o estudo completo.

infográfico Panorama da Cacauicultura no Território Litoral Sul da Bahia

Esse é um momento de fundamental importância para compreender os desafios e o estado de arte da cacauicultura do litoral sul da Bahia. A partir desse diagnóstico profundo que fizemos, podemos desenhar o que precisa ser feito em termos de transformação agronômica, ambiental e socioeconômica de uma cadeia produtiva de dois séculos, que pode caminhar por muitos mais ainda se trilharmos no caminho da saúde integral desse agroecossistema, envolvendo as pessoas, a natureza, a produção e a arte do cacau e de tantas outras matérias-primas tropicais presentes na região. É o começo de uma grande jornada para o futuro. Além disso, os números mostram o potencial de crescimento dessa economia regional. Temos capacidade, recursos técnicos e estrutura para transformar a economia local e causar impacto em todos os municípios da região”

Rui Rocha, um dos pesquisadores do Panorama.

Instituto Floresta Viva 

O Instituto Floresta Viva, que realizou o relatório, foi fundado em 2003 pelo Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia (IESB) com o objetivo de aproximar a causa da conservação da natureza com a inclusão social e econômica no contexto da Mata Atlântica baiana. 

Para realizar o levantamento Panorama da cacauicultura no território Litoral Sul da Bahia, o IFV contou com a liderança científica de Leah VanWey, Stephen Porder, Jorge Chiapetti, Dimitri Szerman, Rui Barbosa da Rocha e Daniel Piotto, e o apoio de pesquisadores da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e da Universidade de Brown (EUA).