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Filantropia comunitária: Arapyaú participa de painel no 12° Congresso GIFE

Foto: acervo GIFE

A experiência do Instituto Arapyaú no sul da Bahia foi apresentada como uma referência na chamada filantropia comunitária no 12° Congresso GIFE, que aconteceu entre os dias 12 e 14 de abril, em São Paulo (SP). O instituto foi convidado a participar de um painel para refletir sobre oportunidades e desafios do investimento social na mobilização de atores diversos para impulsionar o desenvolvimento territorial de forma sustentável e coletiva.

A filantropia comunitária tem como objetivo transformar territórios por meio de um trabalho conjunto pautado pelo reconhecimento da potência e dos saberes locais. Segundo a diretora executiva da Global Fund for Community Foundations, Jenny Hodgson, é uma forma de transferir o poder e o controle para mais perto da base. Essa estratégia também valoriza as soluções pensadas pela população e os atores locais, que enfrentam diretamente os desafios do território, e traz o incentivo externo necessário para que elas sejam efetivas. 

O caso de filantropia comunitária apresentado no evento foi o das ações do Arapyaú no Território do Litoral Sul da Bahia com a cadeia do cacau cabruca. Uma longa experiência que vai desde os diagnósticos participativos, passando pelas definições da atuação, estudos de viabilidade, incubação e fortalecimento de organizações, até chegar ao CRA Sustentável. Concebido, em 2020, em parceria com a ONG Tabôa, o Grupo Gaia e o instituto Humanize, o projeto pioneiro promove a viabilidade e a sustentabilidade econômica da região por meio do acesso ao crédito e do fortalecimento e dinamização da cadeia de cacau cabruca — em que os cacaueiros são plantados na sombra de árvores nativas da Mata Atlântica. 

“Sempre ouvindo o território, mergulhamos nos gargalos enfrentados e buscamos alavancar soluções que promovam um ambiente favorável ao desenvolvimento sustentável. Entendemos, por exemplo, que crédito com assistência técnica seria uma alavanca importante para a dinamização da cadeia do cacau e, consequentemente, da economia da região. Por isso, realizamos estudos de viabilidade econômica, fomentamos organizações de microcrédito e de assistência técnica, como a Tabôa e a Rede de Agroecologia Povos da Mata, que, por fim, permitiram a estruturação do CRA”

Vinicius Ahmar, gerente de Estratégia para Desenvolvimento Sustentável do Instituto Arapyaú

O Arapyaú articula atores locais das mais diversas frentes e setores, que, a partir da cadeia do cacau, transformam a própria realidade.  Esse instrumento de blended finance, que já beneficiou mais de 200 famílias na Bahia, venceu o edital do BNDES em 2022 e receberá, no total, um aporte de R$ 4 milhões. Os recursos serão direcionados para a concessão de créditos e para viabilizar assistência técnica aos beneficiados na próxima rodada do crédito, prevista para meados de 2023. “Os recursos oriundos da filantropia são ainda limitados, por isso precisam ser usados estrategicamente de modo a alavancar mais recursos de forma sustentável e escalável”, afirma o gerente do Arapyaú. 

Ahmar se aprofunda no case falando sobre a importância da atuação em rede e do que caracteriza, em essência, essa articulação na estratégia de filantropia comunitária do instituto no sul da Bahia. Ele destaca três pontos: complexidade, conhecimento e tempo. O primeiro diz respeito aos problemas dos quais as ações do Arapyaú buscam solucionar, que são bastante complexos, como as mudanças climáticas, a pobreza, o desenvolvimento territorial, entre outros. “Lidar com as complexidades do território só foi possível pois, em cada momento, fomos aprendendo e entendendo qual seria nosso próximo papel e onde deveríamos nos posicionar mais estrategicamente”.

O segundo passa pelo entendimento de que a compreensão do todo só é possível pelo coletivo; a articulação com os mais diversos atores, nesse sentido, é uma tentativa de abarcar o máximo de visões possíveis e reduzir as incertezas. “A única forma de lidar com o caráter multifacetado e complexo dos problemas que encontramos nos territórios é somar visões”, diz. O último ponto é sobre entender que as transformações sociais, o grande objetivo da filantropia comunitária, levam tempo e que as mudanças significativas não serão imediatas. 

Além de Vinícius Ahmar, foram convidados para o painel “Filantropia comunitária: mobilização de atores diversos para a transformação”, do 12° Congresso GIFE, o fundador e diretor executivo no Fundo Positivo, Harley Henriques, o superintendente socioeducativo na Fundação FEAC, Jair Resende, e a coordenadora executiva da Casa Fluminense, Larissa Amorim. A moderação do debate ficou por conta da diretora executiva da Rede Comuá, Graciela Hosptein.

Fernanda Carpegiani

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