Representantes dos setores público e privado, da sociedade civil, da filantropia, da academia e da área de finanças reunidos em um mesmo lugar para pensar, de forma coletiva, ideias de desenvolvimento territorial para a Amazônia. Essa foi a tônica de uma imersão promovida pelo instituto Igarapé com a participação do Arapyaú no Bellagio Center, na Itália, um centro de estudos da Rockefeller Foundation. Na primeira semana de junho, esse grupo debateu o panorama, os desafios e as oportunidades para escalar negócios baseados na natureza.
Há 60 anos o Bellagio Center reúne profissionais das mais diversas áreas para dialogar e buscar soluções para um mundo mais justo, inclusivo e sustentável. Ao promover essa colaboração, o centro construiu uma receita poderosa para a inovação e se tornou berço de inúmeras soluções – de sistemas modernos de finanças internacionais a acordos que facilitaram o acesso a vacinas e medicamentos melhores. Ao longo dos anos, já foram mais de 4 mil residentes, sendo 100 deles prêmios Nobel.
Desta vez, Bellagio foi palco para uma agenda que abordou de bioeconomia e sistemas de agroflorestas a restauração e ecoturismo, sempre à luz de um olhar também para o social. Renata Piazzon, diretora-geral do Instituto Arapyaú, conta um pouco dos principais debates que marcaram a imersão – um convite para encontrar um terreno comum para ampliar os limites do conhecimento e da ação coletiva.
Como surgiu e se desenvolveu a participação do Arapyaú em Bellagio?
O Instituto Igarapé submeteu um projeto para o Bellagio Center, que envolvia uma imersão para reflexões sobre como a gente poderia trabalhar o desenvolvimento sustentável de um território específico na Amazônia. A proposta visa a desenvolver coletivamente um modelo de desenvolvimento que permita o pleno avanço de economias virtuosas na Amazônia, ou seja, aquelas que geram benefícios ambientais, econômicos e sociais, como é o caso da bioeconomia. Esse modelo passa principalmente por reconhecer os diferentes riscos enfrentados pelos atores no território e buscar formas de enfrentá-los, entendendo o papel singular do setor privado, público e do terceiro setor nesse esforço.
Por que é tão importante que um centro de estudos colaborativos com tamanho prestígio abra espaço para pensar ideias de desenvolvimento territorial para essa região?
Bellagio é um espaço único, que conecta o mundo todo. Tivemos a presença de lideranças do Fórum Econômico Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Just Climate, fundo global que investe na agenda de clima e bioeconomia. Estavam lá representantes do governo do Pará, da sociedade civil, da filantropia e do setor privado em interação também com os residentes do centro durante aquele mês. Na semana em que estivemos lá, também estavam Joseph Stiglitz, Nobel da Economia de 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial; Kim Stanley, autor do livro Ministry of the Future, um dos best sellers atuais nos Estados Unidos. Isso mostra que a importância de estar ali é também pelas conexões que esse espaço proporciona.
A presença do Arapyaú em um lugar como este reforça o que a gente faz de melhor: articular redes e incubar iniciativas. Bellagio une essas duas pontas ao colocar diferentes atores de diversos lugares do mundo para desenhar e dar início a uma iniciativa que pode vir a ser estruturante.
Quais foram as trocas mais significativas e os principais aprendizados ao longo dessa semana?
Contamos com a presença do governo do Pará, que ajudou a aterrissar as conversas. Falar de forma concreta sobre os desafios de um território foi muito importante. Como é possível promover, por exemplo, um parque de bioeconomia para Belém que possa congregar um centro de inovação em ciência e tecnologia, uma biofábrica para a produção de insumos e viveiros para a restauração florestal? Como a gente pode, dentro desse território, selecionar e mapear áreas que são regularizadas (ou passíveis de ser) para atrair investimento e facilitar a vida do empreendedor? Fomos pensando em pilotos para responder essas questões e desenhando uma série de ações em parcerias público-privadas e filantrópicas.
Nesse sentido, foi muito bom ver o potencial de iniciativas como a Belterra, que está buscando promover sistemas agroflorestais em conjunto com pequenos produtores no estado do Pará. E enxergar como isso pode se conectar com o negócio de empresas como a re.green, que está trabalhando na restauração em larga escala, ou a Natura ou a Dengo, que podem ser off taker (compradoras) dos produtos dos Sistemas Agroflorestais (SAFs). É muito interessante ver a potência desse ecossistema unido a partir da escolha de um território na Amazônia.
E quais são os principais desafios para escalar soluções baseadas na natureza nesse território?
Além do desafio de segurança jurídica e regulamentação fundiária, há o fato de que 70% da população na Amazônia vive nas cidades, que têm uma economia que está de costas para a floresta. A Amazônia representa 10% do PIB do Brasil, mas é um percentual baseado em uma indústria de serviços que não está voltada para esse ecossistema. Há, então, um desafio de conexão dessa população urbana a soluções baseadas na natureza na Amazônia e a novos produtos da floresta. Uma alternativa, que não é nova, é fomentar essas ideias para que virem negócios que possam ser escalados e capazes de atrair investimento – não só filantrópico, mas também de impacto e de mercado. Outro desafio é ter comprador para os produtos da floresta. Fato é que não há bala de prata, sempre são conjuntos de soluções. Esse é um primeiro passo, mas o que fazer, por exemplo, com as áreas já degradadas naquele bioma? Aí entra a bioeconomia florestal, com seu olhar para a restauração. São diferentes bioeconomias para muitas Amazônias, mas essa experiência em Bellagio nos ajudou a organizar os caminhos possíveis para essa escala das soluções baseadas na natureza e potencializar as parcerias fundamentais com o setor público, privado e filantropia.
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