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Instituto Arapyaú: como atuar em rede para promover transformações sistêmicas

Crédito: IStock

O Instituto Arapyaú nasceu com a premissa de que, para lidar com desafios complexos, não existe uma saída simples. A criação de soluções que tenham impacto e sejam escaláveis exige abertura para ouvir, aprender e aceitar o diferente. O pressuposto é de que muitos dos problemas atuais não possuem contornos delimitados, não podem ser definidos por apenas uma perspectiva e ainda são mutáveis. Logo, não possuem também um modo único de resolução.

As redes foram o caminho do instituto para colaborar com a busca por essas soluções. Criar espaços de diálogo, articular pessoas e organizações de diferentes setores, além de estabelecer conexões que ampliem o alcance dos resultados obtidos. É esse o modo de agir do Arapyaú. 

“A sociedade é indomável, tem visões diferentes o tempo inteiro. As redes acolhem essas diferenças, ambiguidades e incertezas”, diz Roberto Waack, presidente do conselho do Instituto Arapyaú. 

Em artigo publicado na revista Página 22, Roberto Waack, Thais Ferraz e Vinicius Ahmar, respectivamente diretora e gerente de Estratégia para Desenvolvimento Sustentável do Arapyaú, em conjunto com Laryssa Kruger, pesquisadora do Núcleo de Cidades e professora da Pós-graduação em Urbanismo Social do Insper, revisam e sistematizam o conhecimento construído pelo Arapyaú até os dias de hoje. O trabalho foi produzido a partir das experiências obtidas com a Agência de Desenvolvimento Regional do Sul da Bahia, o MapBiomas, a RAPS – Rede de ação política pela sustentabilidade, a iniciativa Uma Concertação pela Amazônia e a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. 

Pontos principais

O artigo aponta a definição de uma boa estratégia de gerenciamento como um dos principais caminhos para o sucesso de trabalhos em rede. Como a cooperação e a coordenação dos interesses em um espaço diverso não ocorre por conta própria, é necessário que as interações sejam dirigidas.

Foram feitas algumas propostas para colaborar com a criação dessas estratégias de gestão. Entre os principais pontos está a apresentação de uma classificação para os estágios de desenvolvimento de uma rede. 

Os estágios foram divididos em cinco etapas:

Formação: há pautas em comum, mas os participantes atuam de forma independente. As questões polêmicas ainda são evitadas. O principal objetivo é garantir o engajamento de membros. 

Tormenta: alguns atores competem entre si ou têm posições antagônicas. As questões polêmicas começam a aparecer. Há conflitos e confrontos por poder e liderança. O propósito e a definição de valores básicos começam a se consolidar.  

Normatização: o propósito da rede é partilhado entre os membros e sua finalidade é explícita. Decisões são acordadas e há uma busca por soluções consensuais e resolução de conflitos. 

Desempenho: os resultados já são aparentes. Há confiança mútua entre membros, com construção conjunta e processos de repactuação a partir dos aprendizados gerados. Os processos decisórios são coletivos, ainda que centralizados em espaços de participação representativa.  

Desempenho Participativo: tem as mesmas características do estágio anterior, mas a tomada de decisão é descentralizada em espaços participativos. 

“O entendimento das fases ajuda a definir o que esperar das redes em cada momento”, explica Thais Ferraz, diretora do Instituto Arapyaú. “Embora a busca seja por mudanças sistêmicas de longo prazo, ter objetivos de curto prazo faz toda a diferença. Gera motivação.”

Outra contribuição importante do artigo foi a definição dos sinais de maturidade para os quais os grupos devem estar sempre atentos. Entre eles, estão o nível de conexão dos atores com a rede, o grau de confiança e colaboração entre as partes, a coerência do pensamento em relação à finalidade da rede e a capacidade de adaptação em situações em que há mudança de contexto. O artigo ressalta que esses sinais podem ser mais ou menos relevantes para cada rede, dependendo das suas estratégias, finalidades e do seu estágio.  

Foram descritas as características de liderança necessárias para que a rede atinja seus objetivos. Três formas de liderar foram identificadas:

1) Liderança colaborativa, em que os membros dividem funções de liderança em diferentes momentos

2) Liderança distributiva, em que os processos da rede fornecem oportunidades para que membros atuem de maneira proativa em prol da rede

3) “Liderança institucional”, em que a estrutura da rede é projetada para permitir que os devidos processos ocorram. 

Por fim, o artigo apresenta um aspecto importante que deve permear e é favorecido pela diversidade do trabalho em rede: a necessidade de atenuar os limites de um trabalho baseado exclusivamente na racionalidade. O processo cognitivo humano não alcança algumas complexidades e pode levar a resultados subótimos, ou seja, abaixo do ideal. Para isso, propõe-se a utilização da abordagem da paisagem. 

“A paisagem é definida como uma imagem construída por um observador de uma porção de espaço. Enxergar o mundo por meio das paisagens significa enxergar tanto os elementos que ali estão, visíveis, quanto a relação entre eles e a relação deles com os observadores”, destaca o artigo. 

“Para acessar os elementos não visíveis, é preciso olhar desejos e sonhos das pessoas, representados de várias maneiras, como na arte, por exemplo”, acrescenta Roberto Waack. “Trazer esse aspecto é essencial para a definição de quais caminhos devem ser seguidos”.  

Confira o artigo completo na Página22.

Fernanda Carpegiani

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