O primeiro evento de lançamento do livro, que aconteceu no dia 15 de agosto na Fundação Fernando Henrique Cardoso, com mediação de Sérgio Fausto, diretor-executivo da instituição. “A ideia é sermos provocadores, profundos e mais conscientes das nossas decisões como país”, reforçou Thaís Ferraz, diretora do Arapyaú, que está à frente da publicação juntamente com Renata Loew Weiss, coordenadora de lideranças do instituto.
Um mundo em crise
Sérgio Suchodolski, Senior Fellow do Centro Brasileiro de Relações Institucionais (CEBRI), instituição que deu apoio ao evento, reforçou a importância do livro em um momento de emergência não só climática. “Há 21 anos, nós tínhamos 51% dos países do mundo com regimes democráticos. Hoje nós somos 27%. A gente vive a emergência climática e a emergência da democracia. Acho importante essa referência no livro em um momento de reconstrução do Brasil”, afirmou.
Para Izabella Teixeira, essa simultaneidade de crises, à qual ela soma a do multilateralismo, convoca o Brasil para uma reflexão mais estratégica. “Em um mundo que está em crise, a sociedade brasileira deveria se comportar como uma provedora de soluções, porque o Brasil tem alternativas no curto prazo e, portanto, pode ter ambição”, explica.
Na tentativa de desinterditar as possibilidades do país, “Inquietações de um Brasil Contemporâneo” busca construir uma espécie de ancoragem do futuro. “O novo está aí, mas está enfrentando dificuldade de emergir. A gente precisa, às vezes, embaralhar as cartas e distribuir mais uma vez pra gente mudar de posição, de ideias, e poder se abrir para coisas diferentes. As conversas do livro traduzem isso”, explica Francisco Gaetani.
Marcello Brito também reforçou a importância da escuta generosa para o enfrentamento dos desafios comuns. “Não tem como falar de produção de alimento nesse país sem falar de meio ambiente, conservação, preservação ambiental(…). Esse livro é um exercício para que a gente entenda que nosso ponto de vista, na maioria das vezes, está errado. Só quando a gente tem a capacidade de entender isso, e de sentar com gente boa para ouvir, é possível tentar fazer uma construção.”
Da era industrial para a biológica
A necessidade do diálogo é imperativa diante de uma agenda climática que, nos últimos 30 anos, tem passado por um processo de transferência de bastão. Antes restrita a pesquisadores, cientistas e ambientalistas, essa agenda passou a ser assunto também de governos, sistemas multilaterais e, mais recentemente, das empresas e do setor financeiro. Por fim, virou tema da sociedade como um todo por um dos mais duros caminhos: a aceleração da frequência e da intensidade dos efeitos climáticos.
“A natureza está abrindo os cotovelos e se fazendo presente. E essa demanda traz não só a criticidade dos eventos, mas também soluções. Quando a gente olha transição energética, transição do sistema de segurança alimentar, inclusão, as diversas questões relacionadas ao bem-estar das populações, novos modelos de riqueza, novas formas de medir riqueza… tudo isso é sinal de uma transformação que o mundo está vivendo, ao sair da era industrial para o que tem sido chamado de era biológica”, ressalta Roberto Waack. “E, por toda a sua megabiodiversidade, pelo conhecimento das suas populações tradicionais, por seu território, por sua ciência e tecnologias que temos do uso do solo, não tem como o Brasil não ser protagonista desta história.”
Samela Sateré-Mawé, que fechou o evento e contribuiu, sobretudo, com o último capítulo, trouxe a importância do imaterial. “O livro traz o tempo, mas também o além do tempo. Ninguém diz o que é certo ou errado. O vocabulário dos povos indígenas é esse: nós, povos indígenas, somos uma extensão da natureza. E nos entendemos como um corpo-território, em que a mulher foi o primeiro deles, porque traz vida. Por isso a gente defende o território em todos os aspectos. Porque sem território, a gente não tem pra onde voltar.”
“Inquietações de um Brasil contemporâneo” é o início de uma conversa aberta, que tem a ambição de se juntar a muitas outras a fim de encontrar caminhos possíveis para a construção, desde já, de um futuro desejável de país.
“O Brasil precisa conhecer a si mesmo – em especial no que diz respeito à sua grandiosa base de recursos naturais – para mudar. A transformação do país se dá a partir do que ele é, não a partir de visões e aspirações dissociadas da realidade nacional.”
– Francisco Gaetani
(foto: Cauê Ito)
“Vivemos uma crise com a natureza, possivelmente disruptiva, que exigirá mudanças de mentalidade, em nossos estilos de vida e na forma de promovermos desenvolvimento e de lidarmos com as liberdades. Portanto, não estamos falando de mudanças de atitude para o futuro, e sim no presente.”
– Izabella Teixeira
(foto: Cauê Ito)
“Sabemos de onde partir e temos a intuição sobre aonde queremos chegar. Estamos na transição, e este é um ponto ainda pouco discutido. Na colaboração pré-competitiva das empresas na Amazônia, dados fidedignos e transparência nas informações são chaves para o futuro.”
– Marcello Brito
“A única certeza sobre os temas tratados neste livro é sua impermanência. Assim, que sobreviva seu caráter provocativo.”
– Roberto S. Waack
“Ao reflorestarmos nossas mentes, entenderemos a importância do imaterial, da complexidade e da simplicidade do que é ser e pertencer.”
Samela Sateré Mawé
Racionalidade e sensibilidade: a arte de Josias Marinho de Casadecaba não ilustra o conteúdo do livro, mas conversa com ele: a feitura do ninho traz também uma visão inquieta e inacabada de futuro.
(foto: Cauê Ito)
Assista ao evento de lançamento do livro “Inquietações de um Brasil Contemporâneo: Desafios das eras climática, digital-tecnológica e biológica”.