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Nova Economia da Amazônia (NEA) pode gerar empregos e crescimento no PIB brasileiro, aponta estudo

Foto: WRI Brasil

Manter a floresta em pé não é uma barreira para o desenvolvimento, muito pelo contrário, é uma oportunidade de crescimento qualificado e inclusivo para a Amazônia Legal. É o que aponta o estudo Nova Economia da Amazônia (NEA), realizado pela WRI Brasil, com apoio do Instituto Arapyaú e colaboração da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia — entre outras organizações parceiras. O relatório apresenta uma combinação inédita de dados e modelos, a partir da análise do cenário econômico atual da região e uma projeção para os próximos trinta anos. 

Lançado em junho, o estudo envolveu 76 pesquisadores de instituições acadêmicas do norte ao sul do país, incluindo pesquisadores indígenas, para elaborar um novo modelo de desenvolvimento para a região, com geração comprovada de benefícios para as pessoas, para os negócios e para a natureza. Com a promoção de atividades de bioeconomia, livres de desmatamento e com baixa emissão de carbono, a projeção de crescimento é de pelo menos R$ 40 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) da Amazônia Legal e de R$ 226 bilhões no PIB brasileiro, em todos os setores.

A nova economia ainda geraria um saldo de 312 mil empregos no território, 81 milhões de hectares em florestas adicionais e estoque de carbono 19% maior em comparação ao modelo de desenvolvimento atual, além de 883 mil novos postos de trabalho apenas nas áreas de bioeconomia e restauração. O modelo da pesquisa considerou treze ​​produtos da biodiversidade, com ganho estipulado no PIB de R$ 38,5 bilhões, mas o potencial é ainda maior. “Fomos capazes de olhar para apenas treze das centenas de produtos da bioeconomia consumidos diariamente na região”, explicou Rafael Feltran-Barbieri, pesquisador no NEA.

Para alcançar os patamares de investimentos necessários à descarbonização, o relatório defende que será preciso uma grande ampliação da oferta de financiamento, com valor total para a transição estimado em 1,8% do PIB nacional. O custo de não fazer a transição para a NEA, porém, pode ser muito mais alto. Projeções apontadas no estudo indicam que não frear o aquecimento global abaixo de 2°C pode custar entre 4% e 18% do PIB mundial até 2048.

Carlos Nobre, cientista da Academia Brasileira de Ciências e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, reforça a urgência da transição. “O modelo econômico atual causa degradação florestal e não considera o enorme potencial que a floresta em pé tem para a economia. Hoje explora-se muito e ganha-se pouco. Se continuar nesse parâmetro, chegaremos ao ponto de não retorno, em que não será possível recuperar a floresta”, disse.

Bom para a Amazônia, bom para o Brasil

“Uma das perguntas que nortearam a pesquisa foi “Como a Amazônia Legal poderia conduzir a transição do Brasil para uma economia justa, inclusiva e de baixo carbono, no horizonte de 2050?'”, explicou Fernanda Boscaini, diretora executiva interina do WRI Brasil, durante o evento de lançamento do estudo, em Belém (PA). Segundo a diretora, as próximas décadas vão determinar se a Amazônia vai liderar a transição ou se vai seguir uma trajetória de destruição. O relatório comprovou que a NEA poderia, não só levar a região para um crescimento maior, mais qualificado e inclusivo até 2050, como seria catalisadora de uma transição econômica justa, competitiva e de baixa emissão para todo o Brasil.

Agenda em Belém (PA)

Além do lançamento do NEA, o Instituto Arapyaú apoiou e marcou presença em outros dois eventos em junho na cidade de Belém (PA): a 17ª edição do Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e a Conferência Pan-Amazônica de Bioeconomia. 

Roberto Waack, presidente do conselho do Arapyaú, foi painelista na mesa “Como a insegurança pública impacta os custos dos negócios na Amazônia”, com moderação de Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio da Amazônia Legal. Foi a primeira vez que o Fórum de Segurança foi realizado em um estado da Amazônia Legal, organizado por uma parceria entre a Universidade Federal do Pará e da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará. O evento reuniu gestores federais, estaduais e municipais, profissionais da segurança pública, pesquisadores acadêmicos e representantes da sociedade civil dos 26 estados e do Distrito Federal. 

Já a Conferência Pan-Amazônica teve participação de Lívia Pagotto, gerente sênior de conhecimento do Arapyaú e secretária-executiva da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia. Reunindo mais de 200 especialistas locais, regionais e internacionais na capital paraense, o objetivo do encontro era debater formas de impulsionar a bioeconomia no território.

Além de ser uma cidade-chave para a região da Amazônia Legal, Belém está se tornando um ponto de encontro para as discussões globais sobre biodiversidade e clima. O município se prepara para receber, em agosto, a Cúpula da Amazônia, com a presença de chefes de Estado dos países que compõem a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), e a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em 2025.

Fernanda Carpegiani

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