ONU lança Relatório Especial sobre Mudanças Climáticas e Uso da Terra

O novo relatório especial do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), da ONU, foi divulgado no dia 8 de agosto. O documento mapeou o status atual do uso do solo no mundo – responsável por 23% das emissões de GEE – e analisou questões relevantes para a mitigação das mudanças climáticas e adaptação da economia. 

Este relatório é uma importante fonte de informação sobre as mudanças climáticas e sustentam o entendimento da comunidade internacional sobre questões relacionadas ao tema (mudança climática, desertificação, degradação da terra, manejo sustentável da terra, segurança alimentar e fluxos de gases de efeito estufa em ecossistemas terrestres).

As conclusões do levantamento são resultado de dois anos de trabalho de 103 peritos de 52 países, que participaram voluntariamente do estudo. O relatório atesta que terra e clima interagem entre si e que a atividade humana afeta mais de 70% da superfície terrestre. Também destaca que a agricultura, floresta e outros usos da terra são responsáveis por cerca de 1/4 das emissões de gases de efeito estufa do planeta.

O relatório valida declarações que vem sido feitas há um tempo na agenda de uso da terra e que agora são acordadas pelas delegações dos 195 países membros do IPCC:

1. Limitar o aquecimento global até 1.5ºC não pode ser atingido sem o setor de uso da terra: precisamos reduzir drasticamente nossa dependência de combustíveis fósseis e ampliar o uso de energia renovável, mas emissões zero até 2050 não podem ser alcançadas sem o esforço do setor de uso da terra. O uso da terra impulsiona as mudanças climáticas por meio do desmatamento e da conversão de ecossistemas, degradação da terra, agricultura e fornecimento de alimentos.

2. A terra pode ser tanto fonte de emissões de carbono como um sumidouro para sua remoção: como administramos a terra tem um impacto direto em nossa capacidade de combater as mudanças climáticas. Investimentos em restauração podem resultar em benefícios globais e promover uma economia baseada nos serviços ecossistêmicos restaurados.

3. Negócios como de costume não são uma opção: as pressões sobre a terra só aumentarão a menos que se mude a forma como é utilizada. Atrasar a ação levará ao aumento do aquecimento global e aos impactos climáticos associados. A gestão sustentável da terra é um componente-chave. Os países podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa com soluções climáticas baseadas na natureza, para deter o desmatamento e melhorar as práticas agrícolas.

4. Florestas, alimentos e terra são chave para combater as alterações climáticas: podemos tirar a pressão da terra escolhendo diferentes formas de cultivo e se alimentando de dietas baseadas em vegetais, reduzindo o desperdício e a perda de alimentos. O relatório incluiu uma sugestão genérica de políticas que influenciam escolhas de dieta. Os autores estudaram também o sistema alimentar mundial, seus limites e a evolução das dietas, em particular em referência ao aumento do consumo de carne. A fome afeta pelo menos 820 milhões de pessoas. As terras produzem muito mais alimentos do que o necessário para alimentar o mundo inteiro, mas quase 30% da comida produzida termina no lixo.

A eficácia das ações de combate à crise climática é reforçada pelo envolvimento das partes interessadas locais (particularmente as mais vulneráveis às mudanças climáticas, incluindo povos indígenas e comunidades locais, mulheres e marginalizados) na seleção, avaliação, implementação e monitoramento de políticas públicas voltadas à mitigação e adaptação.

O IPCC também ressalta a importância de ações de curto prazo para a transferência de conhecimento e tecnologia para melhoria do uso da terra, bem como a necessidade de implantação de sistemas de monitoramento e alerta de mudanças no uso da terra, que devem ser apoiados por novas tecnologias de informação (serviços baseados em nuvem, sensores terrestres, imagens de drones etc.), o que possui total sinergia com projetos que temos apoiado e acompanhado de perto – MapBiomas e Amazon Third Way.

O relatório fornece informações para os países refinarem suas propostas de soluções baseadas na natureza e suas conclusões podem contribuir para uma narrativa que começa com seu lançamento e passa pelos principais eventos climáticos (UNSG Summit, COP-25 e CDB China). A indicação é de que não existe uma “bala de prata” para a mudança do clima e de que mudar nosso relacionamento com a terra é uma parte vital para combater a crise climática.