Amazônia negra
Outra presença marcante no debate foi da economista Marcela Bonfim, que hoje atua como fotógrafa e artista visual em Porto Velho, Rondônia. Mulher negra, Marcela se dedica ao projeto (Re)conhecendo a Amazônia Negra: povos, costumes e influências negras na floresta, no campo da antropologia visual, que versa sobre a constituição e memória da população negra brasileira na região amazônica. Explica que, antes de chegar a Rondônia, em 2010, seu imaginário sobre a Amazônia se restringia à “natureza selvagem, ao índio, ao nada”. No entanto, segundo ela, foi na Amazônia que iniciou um processo de tomada de consciência sobre a própria identidade.
Amazônia 2030
O diretor-executivo da Climate Policy Initiative Brasil (CPI) e professor do departamento de Economia da PUC-Rio, Juliano Assumpção, compartilhou do andamento do Projeto Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores para desenvolver um plano de ação econômica e socioambiental para a região nesta década. Assumpção enfatizou o entendimento de determinantes históricos como ponto de partida para qualquer discussão sobre a Amazônia. “O objetivo é pensar possibilidades a partir do potencial que é próprio da Amazônia, não de modelos externos”, explica.
Segundo ele, a região sofreu um processo de ocupação artificial, baseado em atividades apartadas de sua vantagem comparativa natural, que é a própria floresta. Ele explica que os mercados de pimenta, castanha, palmito, cacau e abacaxi, dentre outros produtos nativos amazônicos, são subaproveitados no Brasil, e geram um volume de receitas bastante inferior ao potencial identificado. Hoje, países como Bolívia, Peru, Vietnã, Costa do Marfim e Gana dominam essas cadeias.
Ainda de acordo com o pesquisador, os estudos já realizados pelo Amazônia 2030 mostram que a informalidade na Amazônia é superior à verificada em todo o país, e que mesmo os vínculos formais de trabalho têm mais chance de serem desfeitos em um curto espaço de tempo, também na comparação com o cenário nacional. As pesquisas revelam, ainda, que parte significativa da renda que circula nos estados amazônicos tem origem em programas sociais ou no funcionalismo público. Agora, essa análise será aprofundada pelo projeto em nível regional e setorial pelo CPI.
Problema simbólico
O encontro contou ainda com a presença do documentarista, fundador e editor da revista Piauí, João Moreira Salles, que acaba de encerrar uma aclamada série de artigos sobre a Amazônia, Arrabalde, publicada em seis partes pela Piauí. Moreira Salles passou cinco meses no Pará, estado que, segundo ele, “encerra boa parte das contradições da Amazônia”, onde convivem o agronegócio moderno e sustentável, práticas produtivas devastadoras e imensas unidades de conservação.
Para o documentarista, o Brasil não foi capaz de produzir uma ideia sobre a floresta, e agiu para substituí-la por outra coisa.