Sustentabilidade: por que faz tanto sentido atuar em rede?
Em entrevistas à Folha de S. Paulo e ao Valor Econômico em março, Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, reforçou a importância do diálogo entre organizações e lideranças de diversos setores para a busca de soluções para o desenvolvimento sustentável. Segundo ele, só por meio da atuação em rede e do poder da inteligência coletiva criada nesses espaços é possível lidar com as questões complexas da sustentabilidade.
Waack detalhou como, em função dessa crença, o instituto tem trabalhado ao longo do tempo na construção de redes. Em 2015, o Arapyaú foi um dos articuladores da Coalizão Brasil, que aproximou empresas do agronegócio, do setor florestal e ambientalistas. Hoje, o movimento traz propostas compartilhadas e se consolidou como uma rede de advocacy com mais de 300 participantes. O Instituto também teve participação ativa na criação da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia em 2020, um espaço plural e democrático que reúne representantes de diferentes setores – sociedade civil, setor privado, comunidades locais, povos indígenas, governos, entre outros – na busca de alternativas de desenvolvimento sustentável para a região e o país.
No campo corporativo, Waack acredita que é também a participação em redes, e não a agenda ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês) isoladamente que dará às companhias condições de enfrentar os desafios atuais, como uma sociedade cada vez mais engajada, instruída e com uma influência crescente sobre o que acontece dentro delas. “As empresas ainda querem ter o controle de tudo o que diz respeito a elas, porém isso é cada vez mais frágil. A licença para operar está mais complicada. As questões reputacionais, mais complexas”, afirmou à Folha.
De acordo com Waack, qualquer setor hoje é afetado por um conjunto heterogêneo de temas e personagens, e as companhias não sabem o que fazer, tentam simplificar e limitar a discussão ao ESG.
Ou as empresas estabelecem um relacionamento profundo com a sociedade, ou vão continuar brincando de sopa de letrinhas com seus departamentos de ESG.”
Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú
Amazônia na agenda nacional
Em live do Valor Econômico, Waack, que é também uma das lideranças de Uma Concertação pela Amazônia, falou do esforço da iniciativa para colocar a Amazônia, que responde por 60% do território nacional, na agenda brasileira, de forma ampla e sistêmica.
Em março, no segundo encontro da série, denominada “Amazônia e as Eleições 2022”, as agendas abordadas foram educação e segurança pública. Por isso, foram disponibilizados no site da Concertação relatórios analíticos (aqui e aqui) com uma visão integrada da região, incluindo a evolução dos indicadores na última década e a comparação com as outras regiões do país e com o Brasil. Esses dados também podem ser acessados e visualizados de forma interativa, comparativa e a nível estadual diretamente na plataforma Amazônia Legal em Dados.
O presidente do Conselho do Arapyaú destacou a necessidade de se avançar em um modelo para a Amazônia que alie capital natural e desenvolvimento socioeconômico. “Conciliar o fim do desmatamento com uma agenda de bem-estar e desenvolvimento local é um grande desafio. Esse modelo está em aberto. Eu diria que a gente tem algumas dicas, alguns insights e elementos sendo construídos, mas ele não está pronto”, afirmou.
Em uma hora de conversa, Waack passou por uma ampla variedade de temas, como a importância da participação dos povos indígenas e das comunidades locais nas discussões sobre desenvolvimento; pagamento por serviços ambientais; rastreabilidade e formas de consolidar a economia da conservação.