
O Brasil tem potencial para inverter a curva histórica do desmatamento e alcançar um aumento líquido da cobertura florestal até 2035, segundo o estudo “O Protagonismo das Florestas Brasileiras na Agenda Climática Global”, realizado por uma coalizão de oito instituições — Arapyaú, Amazônia 2030, CEBDS, Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Imazon, Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Instituto Itaúsa e Uma Concertação para a Amazônia. O levantamento, que será apresentado na COP30, em Belém, projeta que o país pode ampliar suas florestas de 517 milhões para 525 milhões de hectares em dez anos, um ganho de oito milhões de hectares, área equivalente ao estado de Santa Catarina.
Esse avanço teria impacto direto na ampliação dos estoques de carbono e reforçaria o papel estratégico do Brasil no enfrentamento da crise climática global. Segundo o estudo, é possível aumentar a cobertura florestal e manter a expansão agropecuária sem competir com terras destinadas à produção de alimentos, desde que o país consolide políticas públicas, incentivos econômicos e parcerias privadas voltadas à conservação, à restauração e à silvicultura sustentável.
“Os resultados reforçam a relevância do Brasil como uma potência florestal e climática, com papel estratégico para o planeta à medida em que contribui para mitigar as mudanças do clima, frear a perda de biodiversidade e garantir os serviços ecossistêmicos que sustentam a vida na Terra e a própria economia global”, afirma Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú.
O levantamento apresenta dois cenários para o futuro das florestas brasileiras. No cenário base, o país manteria os níveis atuais de desmatamento, o que representaria uma perda de 1% do estoque de carbono até 2035. Já o cenário potencial leva em conta o alcance das metas de desmatamento zero previstas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) do Brasil, que estabelece o compromisso voluntário do país em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa para combater a mudança climática. Combinado ao crescimento das atividades de restauração e silvicultura, esse segundo cenário permitiria um aumento de 1% no estoque de carbono, algo inédito na história recente.
“Sem as florestas tropicais, as metas do Acordo de Paris não podem ser atingidas, especialmente o limite de 1,5°C de aquecimento até 2030”, alerta Beto Veríssimo, cofundador do Imazon e enviado especial para florestas da COP30. “Existem duas maneiras de capturar carbono. Uma é com tecnologia caríssima e inviável, e a outra é com o que temos há meio bilhão de anos: o processo de fotossíntese.”
Além de apontar caminhos técnicos e ambientais, o estudo propõe uma mudança de paradigma: enxergar a floresta como um ativo econômico. A ideia é que os territórios e comunidades que evitam o desmatamento e conservam ecossistemas sejam remunerados por esse serviço ambiental, o que estimula práticas sustentáveis e garante benefícios sociais e econômicos.
Nesse contexto, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa do governo brasileiro a ser lançada na COP30, surge como uma das apostas mais promissoras. Trata-se de um fundo multilateral que reunirá recursos de governos, bancos e investidores privados para recompensar países tropicais que comprovem resultados na conservação e redução do desmatamento.
Outro mecanismo citado é o REDD+ jurisdicional (JREDD+), já adotado por estados como Acre, Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins. O modelo remunera governos locais que desenvolvem ações de manejo sustentável, restauração e aumento de estoques de carbono, vendendo créditos de carbono no mercado voluntário.
Para Carolle Alarcon, gerente executiva da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, o sucesso dessas iniciativas depende de uma gestão integrada e do reconhecimento do valor econômico das florestas.
“A gestão sustentável das florestas é essencial para zerar as emissões de gases de efeito estufa, e o Brasil tem a responsabilidade de liderar essa pauta, mas é importante reforçar que seu engajamento é de interesse global. No setor de uso da terra, como em todos os demais, não há contradição entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico. Basta ampliar estratégias já conhecidas, como a bioeconomia e o pagamento por serviços ambientais, que permitem prosperar mantendo a floresta em pé”, afirma.
Com cerca de 40% das florestas tropicais do planeta, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Brasil detém também o maior potencial de restauração florestal do mundo. A nova análise reforça que essa condição coloca o país no centro da agenda climática internacional, especialmente em um momento em que o mundo busca soluções escaláveis e eficientes para conter as emissões de carbono.
Se as medidas propostas forem consolidadas, o Brasil poderá não apenas zerar o desmatamento ilegal, mas também aumentar sua cobertura florestal líquida, tornando-se um modelo global de transição climática e econômica baseada na natureza, além de um símbolo do equilíbrio possível entre produção, conservação e prosperidade.
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