
Na COP30, realizada em Belém, o Instituto Arapyaú promoveu as respostas brasileiras para os desafios de clima e natureza e reforçou seu papel de articulador para unir ciência, política, setor privado e sociedade civil em torno dessa agenda. Com foco em bioeconomia, sistemas agroalimentares e restauração florestal, o instituto ampliou sua presença tanto nos espaços oficiais da conferência quanto nas iniciativas de legado para a região.
Em parceria com o Instituto Itaúsa e a rede Uma Concertação pela Amazônia, o Arapyaú transformou a Cas’Amazonia, espaço cultural no coração da cidade, em uma referência nos debates de soluções integradas para clima e desenvolvimento. Com a participação de 20 instituições, foram ao todo 122 palestrantes e 38 eventos que reuniram cientistas, lideranças indígenas, empresários, gestores públicos e representantes da sociedade civil.
Com uma programação diversa, a Cas’Amazonia recebeu a economista e vencedora do Nobel Esther Duflo, que falou sobre a sua proposta de transferência de renda direta para a conta bancária dos cidadãos mais afetados pelas mudanças climáticas, que ficou conhecida como o “pix do clima”. Original, a solução foi apresentada pela primeira vez em Belém. Também participaram da programação da casa nomes como o executivo Paul Polman, líder empresarial e ativista pela causa climática e pela igualdade, e a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet.
No painel sobre como catalisar a economia da restauração florestal, os cientistas Paulo Artaxo e Thelma Krug; a executiva Malu Paiva, vice-presidente de Sustentabilidade da Suzano; e Tony Lent, cofundador da Capital for Climate, debateram como transformar a natureza em base estratégica para o desenvolvimento. “O Brasil pode liderar, por exemplo, com um mercado de carbono que exporte créditos, algo fundamental para que as florestas se consolidem como uma classe de ativos”, disse o presidente do Conselho do Arapyaú, Roberto Waack, que moderou a conversa.
Já no dia dedicado aos diálogos sobre bioeconomia na Cas’Amazonia, o empresário Guilherme Leal, cofundador da Natura e da Dengo, defendeu que os saberes tradicionais das comunidades da floresta precisam ganhar mais espaço. Segundo ele, é preciso conectar as três inteligências que hoje convivem no mundo: a humana, a da natureza e a artificial. Sem isso, perderemos oportunidades e correremos riscos cada vez maiores. “Para chegar onde queremos, é preciso competência técnica, boa ciência. Mas não estou falando apenas da boa ciência de São Paulo, Oxford, do Pará. Estou falando da ciência da Amazônia, que precisa dialogar com o universo científico. Existe uma grande riqueza no âmbito dos povos que habitaram e que habitam essa floresta. É preciso ter muito respeito pelo valor dos diferentes saberes”, afirmou.

O debate sobre a transição dos sistemas alimentares reuniu nomes como o cientista Carlos Nobre; Tatiana Schor, chefe da Unidade Amazônia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); e Vinicius Ahmar, diretor de Programas do Arapyaú. A proposta foi mostrar como integrar produção, conservação e inclusão, fortalecendo cadeias sustentáveis nos territórios amazônicos e brasileiros. “A floresta tem milhares de produtos, e ciência e tecnologia moderna podem explorar muito mais o potencial da biodiversidade. O Brasil precisaria investir muito mais em soluções como agricultura regenerativa, por exemplo”, explicou Nobre.
A Cas’Amazonia abrigou ainda o lançamento do livro Floresta na Boca, da chef Bel Coelho, em evento que contou com a presença do presidente da COP30, André Corrêa do Lago. A obra trata da cultura alimentar da Amazônia e da valorização dos ingredientes da floresta em seus pratos.
O Arapyaú também marcou presença na Blue Zone, onde ocorrem as negociações oficiais. Em parceria com Amazônia 2030, Imazon, Ibá, CEBDS, Uma Concertação pela Amazônia, Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, e Instituto Itaúsa, o instituto apresentou um estudo encomendado pela presidência da COP30 que aponta um conjunto de iniciativas públicas e privadas capazes de conter o desmatamento e de criar mecanismos para remunerar a conservação, a restauração e o plantio industrial no país. O levantamento mostra que o Brasil pode ganhar oito milhões de hectares de florestas, equivalente à área de duas Suíças, em até 10 anos. “Isso reforça o Brasil como uma potência florestal e climática, com papel estratégico para o planeta à medida em que contribui para mitigar as mudanças do clima, frear a perda de biodiversidade e garantir os serviços ecossistêmicos que sustentam a vida na Terra, no Brasil e a própria economia global”, destacou Waack.
Ainda no espaço oficial da COP, ao lado da Tropical Forest Alliance e da Vox Capital, o Arapyaú apresentou o Catalytic Capital for the Agricultural Transition (CCAT), um fundo criado para impulsionar a transição agropecuária sustentável no Brasil. Com aporte inicial de US$45 milhões, ele oferece capital para tornar a restauração de áreas degradadas em uma alternativa mais produtiva e lucrativa. O Arapyaú é a única organização brasileira entre os investidores do CCAT — os demais são a Fundação Gordon e Betty Moore, a Iniciativa Internacional de Clima e Florestas da Noruega (NICFI), a Margaret A. Cargill Philanthropies e Porticus — e atua como parceiro estratégico da iniciativa que pretende mobilizar até US$10 bilhões até 2030 e beneficiar 1200 produtores. “Para mudar a dinâmica de uso do solo, precisamos multiplicar mecanismos que viabilizem a transição agroecológica e regenerativa e nossa grande agenda de sistemas alimentares está inserida nesse propósito”, explica Vinicius Ahmar.
Ciência e legado
A COP30 marcou a estreia do Pavilhão de Ciência Planetária, o primeiro da história das conferências do clima, co-realizado pelo Arapyaú, ao lado de organizações como Planetary Guardians, Potsdam Institute e Instituto Serrapilheira. Liderado pelos cientistas Carlos Nobre e Johan Rockström, o pavilhão aproximou pesquisas de ponta das decisões políticas. “A ciência deve guiar a próxima fase da ação climática. E o Pavilhão foi uma oportunidade de unir pesquisas e dados com as agendas políticas e econômicas”, destaca Renata Piazzon, CEO do Instituto Arapyaú.
A agenda do instituto também incluiu participação na AgriZone, espaço do agronegócio coordenado pela Embrapa, onde apresentou iniciativas voltadas à cacauicultura sustentável. Com 15 anos de atuação na cadeia do cacau no sul da Bahia e, mais recentemente, na Amazônia, o Arapyaú reforçou o potencial do fruto como vetor de conservação e renda. “A cacauicultura brasileira é referência em sistemas que mantêm a floresta em pé e regulam o ciclo da água”, destacou Ricardo Gomes, diretor de Programa do instituto.

Como legado para Belém, o Arapyaú foi parceiro técnico na criação do Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, complexo estadual inaugurado às vésperas da COP e conectado às startups sustentáveis fomentadas pela Jornada Amazônia, iniciativa também apoiada pelo instituto.
O Arapyaú integrou ainda a iniciativa Na Mesa da COP30, que articulou fornecedores locais para garantir que pelo menos 30% da alimentação da conferência viesse da agricultura familiar, povos indígenas e comunidades tradicionais, um passo para fortalecer redes de abastecimento que possam permanecer ativas no pós-COP.
Para Renata, a COP30 foi uma oportunidade de mostrar ao mundo a densidade das soluções brasileiras. “Esta foi uma COP pautada em implementação, e o nosso papel foi dar visibilidade às soluções que o Brasil já tem, amplificando experiências e criando pontes para que elas ganhem escala. Belém foi mais um exemplo de que ação climática se faz em rede, com filantropia, ciência, governos e sociedade civil, todos baseados na ciência.”