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A importância do cacau para a bioeconomia brasileira foi tema na 4ª Feira Conexão pelo Clima

São Paulo recebeu em setembro um dos maiores eventos de negócios sobre clima da América Latina. A 4ª edição da Feira Conexão Pelo Clima, promovida pela organização O Mundo Que Queremos e pela instituição CDP Latin America, reuniu empresas, investidores e representantes da sociedade civil, governos e de instituições de interesse público. No centro do debate, os desafios e avanços na preservação e conservação dos biomas brasileiros e a importância da sociobiodiversidade para um projeto de Brasil economicamente sustentável.

A diretora do Instituto Arapyaú, Thais Ferraz, moderou um painel sobre caminhos para aumentar a produtividade e estimular a bioeconomia na Mata Atlântica e na Amazônia, com foco na cadeia do cacau. O cultivo do cacau tem hoje um papel importante no desenvolvimento econômico de regiões como o sul da Bahia e o Pará, que concentram aproximadamente 95% da área plantada e da produção nacional. Graças à boa adaptação a sistemas agroflorestais, onde o fruto é cultivado junto com outras espécies, o cacau também desempenha um papel importante na conservação da Mata Atlântica e da Amazônia, gerando benefícios como conservação do solo, da biodiversidade e dos recursos hídricos, além do estoque de carbono. 

Mas há espaço para o país ampliar sua produção e retomar seu lugar no mercado internacional de cacau. “Para isso, e considerando um modelo sustentável, é essencial que produtores rurais sejam munidos de ferramentas, como assistência técnica e linhas de crédito flexíveis. Essa é uma combinação muito poderosa, mas existem poucas políticas específicas para bioeconomia”, afirmou Thais. A diretora do Arapyaú apresentou a bem-sucedida experiência do Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) Sustentável, instrumento que juntou capital filantrópico com recursos de mercado para possibilitar a concessão de crédito a pequenos produtores no sul da Bahia. 

O Brasil, que já foi o segundo maior produtor de cacau do mundo, com uma produção de 400 mil toneladas, ocupa hoje a sétima posição do ranking, com atuais 200 mil toneladas. A mudança de patamar se deu em função da vassoura de bruxa, praga que no final dos anos de 1980 dizimou a cultura cacaueira no país.

Salo Coslovsky, professor na New York University (NYU) que estuda o potencial de 60 produtos compatíveis com a floresta para desenvolver a bioeconomia na Amazônia, cobrou mais efetividade das políticas públicas existentes para a produção de bioeconomia. “Falta no Brasil uma entidade do lado dos produtores que priorize o ganho de competitividade para cobrar, direcionar e garantir a maior efetividade da oferta pública de investimento público”. 

Cristiano Villela Dias, diretor científico do CIC – Centro de Inovação do Cacau, reforçou a importância da melhoria da qualidade do cacau tanto para abrir o mercado internacional quanto para aumentar a renda do produtor. Para ele, o cacau tende a passar por um processo de sofisticação, com aumento de valor. “Assim como vimos uma transformação no mercado de cafés especiais, o cacau também está passando por um movimento de valorização de sua origem, qualidade e diversidade”. 

Impacto na qualidade de vida

Produtor em Ibirapitanga (BA), no assentamento Dois Riachões, Luciano Ferreira da Silva compartilhou suas experiências na produção agroflorestal. O assentamento, que abriga 40 famílias em mais de 400 hectares, produz o cacau no sistema da cabruca, em que o fruto é plantado na sombra de árvores nativas, ajudando a preservar a Mata Atlântica. 

Coordenador do núcleo Baixo Sul da Rede de Agroecologia Povos da Mata, Luciano abordou como o arranjo de soluções na Bahia para crédito e para o cacau de qualidade teve um impacto direto na qualidade de vida das famílias. “Do ponto de vista econômico, com a diversificação e a agregação de valor ao cacau, houve um grande salto na qualidade de vida dos agricultores e na melhoria da comunidade como um todo”.

Luciano foi um dos beneficiados pelo Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) Sustentável para Cacau, desenvolvido pela organização sem fins lucrativos Tabôa, em parceria com os institutos Arapyaú e humanize e o Grupo Gaia. Segundo ele, o fomento, que trouxe assistência técnica, de crédito e de comercialização, também iniciou um movimento de solidariedade entre a comunidade, através da replicação do modelo de desenvolvimento do Dois Riachões em outros assentamentos. A iniciativa CRA Sustentável beneficiou 185 pessoas no sul da Bahia, por meio de recursos (R$ 1,37 milhão) convertidos em crédito, contribuindo para aumento da produtividade e da renda.

Assista a alguns dos painéis da 4ª edição da Feira Conexão pelo Clima no canal do evento.

Carmen Guerreiro

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