As perspectivas para a Amazônia e o papel central e inovador que a região deve ocupar nas propostas de desenvolvimento para o Brasil marcaram o painel Amazônia 2030: Novas Economias e o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) no dia 17 de agosto. O evento teve apresentação e moderação de Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e consultora do Instituto Arapyaú, e de Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
Criado pelo Consórcio Interestadual da Amazônia Legal, com a colaboração de organizações da sociedade civil e comunidades locais, o Plano de Recuperação Verde (PRV), lançado em julho, foi citado no evento pelo governador do Maranhão, Flávio Dino, como um exemplo de como os esforços e coalizões em torno de temas como clima e desenvolvimento sustentável têm se tornado mais efetivos. Para ele, a eclosão da pandemia e a posse de Joe Biden nos Estados Unidos reforçaram esse movimento.
O objetivo do PRV é permitir a transição para uma economia verde com foco na diminuição da desigualdade social. “É vital que a agenda ambiental esteja conectada ao dia a dia do povo da Amazônia. Se não respondermos ao drama da fome e ao botijão de cozinha custando R$ 130 no Acre, essa agenda estará fadada à derrota”, afirmou Dino.
Beto Veríssimo, co-fundador do Imazon e um dos coordenadores do Programa Amazônia 2030 – iniciativa multi-institucional dedicada a elaborar um amplo projeto de desenvolvimento sustentável para a região –, reforçou um alerta: “no Senado tem dois projetos de lei (o de regularização fundiária e o de licenciamento ambiental) que, se aprovados nos termos que saíram da Câmara, dificultam muito [visualizar] o horizonte de uma Amazônia mais sustentável em 2030. Ou seja, temos duas bombas que precisam ser desativadas antes da COP26”. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas está marcada para novembro, em Glasgow, na Escócia. “Nós temos uma agenda do futuro, mas também uma preocupação enorme com o presente”, diz ele.
Um ano depois de os três maiores bancos do Brasil (Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) assumirem o compromisso de promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia, a vice-presidente executiva de Sustentabilidade do Santander Brasil, Patrícia Audi, detalhou as áreas prioritárias para o grupo – rastreabilidade e transparência da indústria de proteína, culturas sustentáveis, regularização fundiária e bioeconomia – e falou dos desafios da região. “Muitos não têm acesso a serviços básicos, como saneamento e água potável. 45% de um total de R$ 66 bilhões em transações na Amazônia são feitas em dinheiro vivo.”
O painel foi concluído por Guilherme Leal, cofundador da Natura e fundador do Arapyaú. Ele reforçou que apenas na dinâmica da relação entre setor privado, sociedade civil organizada, academia e governo se estabelecem as condições para essas mudanças efetivas, que precisam estar voltadas para os brasileiros que vivem na região. “Se os 30 milhões de amazônidas não lucrarem, não prosperarem, o tal desenvolvimento sustentável que a gente quer criar não fica de pé”, resumiu Leal.
Assista abaixo ao vídeo do evento: