A importância da conservação e do desenvolvimento da Amazônia foi debatida em dois eventos na Climate Week NYC 2022, um dos maiores encontros do mundo sobre a questão climática. Em sua 14ª edição, a semana climática de Nova York retornou à modalidade presencial depois de uma interrupção por causa da pandemia de covid-19. A Climate Week – que ocorreu entre os dias 15 e 25 de setembro, paralelamente à Assembleia da Geral da ONU – é conhecida por focar no cumprimento das metas climáticas e na necessidade de aumentar os compromissos já assumidos. O tema deste ano voltou a ser “Fazer o que precisa ser feito”.
Com uma agenda intensa de conversas em meio a atores de diferentes áreas, os representantes do Instituto Arapyaú e da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia presentes nos encontros reforçaram o papel do bioma na agenda climática global. O objetivo foi levar informações sobre o impacto do atual cenário da região e discutir maneiras de desenvolver o potencial da Amazônia como catalisadora da transição para uma economia de baixo carbono, que seja marcada pela geração de riqueza compartilhada, principalmente com os que moram na região.
O primeiro evento foi o Brazil Climate Summit, organizado pela Universidade de Columbia. Em sua primeira edição, o encontro teve mais de 550 participantes e já aparece entre os maiores sobre clima e setor privado já organizados. A avaliação da Concertação, diante da diversidade dos participantes, é de que o evento abriu caminho para a comunicação com um público menos presente nas discussões sobre clima. O encontro contou com a presença de empresários, investidores, empreendedores e formadores de opinião.
Os painéis se caracterizaram pelo foco nas oportunidades provenientes da transição para uma economia de baixo carbono e não apenas no alerta sobre a necessidade de enfrentar as mudanças climáticas. O evento se configurou como um lugar de apresentação de soluções.
Um estudo da consultoria Boston Consulting Group revelou, por exemplo, que o Brasil pode receber até US$ 3 trilhões em investimentos até 2050 para zerar as emissões de carbono. O trabalho aponta o país como um importante player verde no mundo, explicando como o Brasil está bem posicionado para ser um um líder global na busca de soluções climáticas. Um exemplo é a capacidade de geração de energias limpas como a solar, a eólica e a de biomassa. Outro é o reflorestamento. O país tem a maior área potencial do mundo para recuperação florestal.
Durante o Brazil Climate Summit, um dos painéis com maior destaque foi sobre a necessidade de fomentar uma mudança cultural em relação ao valor da Amazônia. Entre os debatedores estavam os integrantes da Concertação, o apresentador Luciano Huck e a liderança indígena Samela Sateré-Mawé, que também é participante do Programa de Fellows do Arapyaú. “Precisamos reflorestar nossas ideias, reflorestar mentes para que não precisemos reflorestar territórios”, disse a jovem no encontro.
Organizado pela Concertação, em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e o re.green, o painel “Amazônia: desafios e oportunidades como solução climática para o Brasil” fez um alerta para a necessidade de se enfrentar as tensões atuais na região, com fortalecimentos das políticas de combate a ilegalidades e ao desmatamento. A mensagem foi de que sem ação em relação aos problemas regionais, não será possível utilizar toda a potencialidade da Amazônia no desenvolvimento do país e na questão climática.
A principal ameaça hoje à Amazônia é a coordenação entre narcotráfico, garimpo, comércio ilegal de animais, madeireiros ilegais. Estão armados, invadem territórios quando não há policiamento”
Rachel Biderman, cofacilitadora da Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura
Mas houve também o entendimento de que apenas a repressão à ilegalidade não é o suficiente para lidar com a questão amazônica. “Uma estratégia de conservação precisa abraçar a complexidade e heterogeneidade da região “, explicou Roberto Waack, cofundador da Concertação e presidente do conselho do Arapyaú. “Uma das missões da Concertação é desenvolver uma estratégia econômica que promova a conservação.”
Os debatedores concordaram que há a necessidade de que o setor privado invista em um projeto mais estruturante do desenvolvimento sustentável da Amazônia, com um “capital paciente“ direcionado para a região.
A presidente do CEBDS, Marina Grossi, disse que o setor privado entendeu o que precisa ser feito e parte do empresariado já vem colhendo resultados. “Há como produzir e conservar. E o setor privado sabe disso. Podemos ter uma economia regenerativa. Já estamos fazendo a coisa certa e tendo lucro com isso.” Segundo ela, é necessário agora difundir a prática e o conhecimento.
Bernardo Strassburg, do re.green, destacou que recuperar 10% da área degradada na Amazônia absorveria 1 bilhão de toneladas de CO2, mas ressaltou que a recuperação depende da participação das comunidades locais, uma vez que, além do conhecimento, é a população regional que se manterá à frente dos trabalhos ao longo do tempo. ”Precisamos das comunidades para implementar e manter em longo prazo as soluções baseadas na natureza.”
A Concertação destacou ainda o plano que está preparando com foco na região, para ser apresentado aos governos eleitos no Brasil. O objetivo do documento é trazer propostas concretas de projetos de lei, decretos e normativas que possam ser aplicados no curto, médio e longo prazo. “Estamos endereçando diversas áreas no plano, como ciência e educação”, explica Waack, da Concertação, ressaltando que a ideia das ações é sinalizar que o país vai lidar com a questão da Amazônia. “O que estamos tentando fazer com o documento é reconectar o Brasil com o mundo.”