O Instituto Arapyaú organizou um movimento em parceria com instituições do sul da Bahia para reunir e doar cestas básicas para cerca de 800 famílias atingidas pelas chuvas do último mês de dezembro, que causaram enchentes de grandes proporções, destruindo cidades e desalojando milhares de pessoas. A articulação reuniu as mais diferentes organizações e estabelecimentos, todos orientados pelo objetivo em comum de prover itens de primeira necessidade aos atingidos. Em Ilhéus, houve um ponto de apoio para recebimento das cestas básicas doadas e distribuídas entre entidades que mapearam famílias da cidade, e também do município de Itabuna, para realizarem as entregas.
Segundo Ricardo Gomes, gerente do programa Desenvolvimento Territorial do Sul da Bahia do Instituto Arapyaú, depois do dia de Natal, quando o registro de chuvas atingiu 136 mm – mais do que o acumulado em todo o mês de dezembro do ano anterior – doações e recursos financeiros foram canalizados diretamente para algumas organizações. Em Serra Grande, os donativos foram para a Mães Solidárias, e em Ilhéus e região, para o Grupo de Amigos da Praia (GAP) e para os Amigos Solidários.
Além disso, o Arapyaú conseguiu mobilizar mais parceiros para também realizarem transferência de recursos, não apenas para aquisição de cestas básicas, mas também para compra de vestuário, colchões, água potável, e outros itens básicos necessários. “A estimativa é de que, entre o dia 25 e o dia 30 de dezembro, a mobilização tenha arrecadado cerca de 500 mil reais em recursos”, contabiliza Ricardo.
A explicação para as fortes chuvas que atingiram o estado foi a combinação de dois fenômenos naturais distintos: um corredor de umidade que vem da Amazônia e a formação de uma depressão subtropical (rajadas de ventos e nuvens em formato circular que giram em sentido horário). Quando esses fenômenos extremos atingem áreas urbanas, sobretudo as mais vulneráveis, se transformam em tragédias. O número de afetados pelos estragos no sul da Bahia passou de 850 mil, com 26 mortes. Ao todo, 165 municípios decretaram situação de emergência e muitos seguem precisando de ajuda para atender à população atingida.
Embora os cientistas não relacionem a tragédia na Bahia diretamente ao aquecimento global, o desastre serve como exemplo do que é esperado em um mundo mais quente. As causas — e os efeitos — dessas mudanças climáticas não são somente naturais e preocupam especialistas. O último relatório da ONU sobre o clima, divulgado em agosto do ano passado, por exemplo, não deixa espaço para dúvidas sobre a influência do ser humano nas transformações do clima. Se na versão anterior, de 2013, o tema era passível de interpretações, nove anos e 14 mil artigos revisados depois, os cientistas responsáveis pelo estudo afirmam ser um fato provado, cujas consequências são vistas e sentidas cada dia mais.
Ondas de calor, fortes precipitações como no sul da Bahia, além de secas e ciclones tropicais são alguns dos fenômenos meteorológicos extremos ocasionados pelo superaquecimento do globo que serão mais comuns, mesmo em regiões que não costumam sofrer com isso, conforme aponta o relatório. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em São José dos Campos (SP), o número de eventos extremos de chuva no início do verão foi recorde. Entre 1º e 31 de dezembro de 2021 foram emitidos 516 alertas de risco de desastres envolvendo enchentes ou deslizamentos de terra, dos quais 163 se concretizaram em ocorrências. Em comparação com 2020, as ocorrências cresceram 60%.
Enquanto isso, no outro extremo do país, o Rio Grande do Sul passa pela pior seca dos últimos 17 anos. Em todo o mundo, somente no ano de 2021, foram contabilizados 170 bilhões de dólares (R$ 964,8 bilhões) em prejuízos causados por desastres climáticos.