
Após duas semanas de negociações em Belém, a COP30 terminou com importantes avanços para a agenda do clima, inaugurando uma fase de implementação do que já foi acordado na última década, com o Acordo de Paris. Apesar da frustração com a exclusão dos combustíveis fósseis do texto final da conferência, um dos temas de maior impasse geopolítico, foi paradoxalmente essa ausência que abriu a possibilidade para o Brasil liderar um roadmap para a transição energética — com propostas para que o mundo abandone, gradualmente, o petróleo, o carvão e o gás — e outro para a reversão do desmatamento.
De acordo com Lívia Pagotto, diretora institucional do Arapyaú, esse é um movimento positivo. “Temos a oportunidade de continuar a discussão sobre os combustíveis fósseis ao longo dos próximos meses, mesmo sem um consenso estabelecido, e de atrair a ciência, o setor privado, a sociedade civil, estados e municípios para essa pauta”, afirma. E a continuação dessa conversa já tem uma data marcada, em abril, na Colômbia, com uma conferência global dedicada ao tema.
Já a pauta de adaptação, que historicamente aparecia em segundo plano nas conferências, ganhou força. Foi acordado pela primeira vez um conjunto de indicadores para medir progresso em adaptação às mudanças climáticas. Além disso, os países ricos concordaram com a meta de triplicar, até 2035, o financiamento para que nações em desenvolvimento tenham mais capacidade de reduzir os riscos e os danos que podem sofrer com perigos climáticos como tempestades ou secas.
Belém também trouxe um avanço inédito ao reconhecer o papel dos povos indígenas na proteção das florestas e a inclusão de seus direitos nas decisões globais sobre clima. A conferência também reconheceu a necessidade da equidade de gênero em uma transição justa, com a aprovação de um novo mecanismo global para evitar que a economia de baixo carbono produza ondas de desemprego, protegendo os direitos das comunidades.
Essa foi uma decisão importante na COP em que a presença da sociedade civil, com o retorno da Marcha dos Povos, a participação de diferentes coletivos e a presença inédita de cinco mil indígenas foram um dos destaques. “Belém virou uma cidade-pavilhão, marcada pela maior participação de povos indígenas e populações da floresta da história das COPs”, celebra Renata Piazzon, CEO do Instituto Arapyaú. Com a presença de 195 países e mais de 40 mil delegados e observadores que conseguiram preservar o Acordo de Paris, o evento também foi um atestado de sobrevivência do multilateralismo. A aproximação entre ciência e negociação política foi outro emblema da COP30: houve, pela primeira vez, um Pavilhão de Ciência Planetária na Zona Azul, permitindo a cientistas e negociadores debaterem as evidências que devem embasar as estratégias contra a crise climática. “Avançamos menos do que gostaríamos, mas mais do que parecia viável. Belém enfrentou desafios, mas demonstrou maturidade para sediar essa conferência. A COP não resolveu tudo, mas abriu caminhos concretos para levar essa agenda para 2026”, resume Renata.