O Dia da Amazônia foi instituído em 2007 por uma Lei Federal e, desde então, é celebrado no dia 5 de setembro. Mas este foi o primeiro ano em que a data ficou marcada por uma grande mobilização nacional e uma vasta programação em várias cidades do país. A movimentação inédita foi encabeçada pelo coletivo Amazônia 2022, com o objetivo de colocar o território e seus povos no centro do debate público e político-eleitoral.
A iniciativa é coordenada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e tem a participação de diversas organizações, como o Instituto Arapyaú e a rede Uma Concertação pela Amazônia. Ao longo de 2022, o coletivo promoveu várias ações e campanhas, convidando a sociedade para discutir a preservação do bioma e o desenvolvimento da região, sobretudo em um ano eleitoral. O auge da mobilização ficou por conta dos Festivais Dia da Amazônia 2022, com o lema “Tira o pé do chão e mantenha a Amazônia de pé”.
Entre os dias 3 e 10 de setembro, houve shows gratuitos e outras atividades culturais em oito cidades brasileiras: São Paulo (SP), Manaus (AM), Belém (PA), São Luís (MA), Macapá (AP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Santarém (PA). Os festivais tiveram a presença de artistas de várias linguagens, incluindo nomes estabelecidos da música atual, como Fernanda Takai, BaianaSystem, Geraldo Azevedo, MC Carol e Gaby Amarantos. Estima-se que cerca de 200 mil pessoas participaram dos eventos.
A Concertação esteve à frente do espetáculo Ventanias / Buane’cü, que compôs o palco de São Paulo e São Luís do Maranhão, realizado em parceria com o Condô Cultural (Instituto Cultural Mundo Novo), e com direção da cantora, compositora e percussionista Anelis Assumpção. A apresentação foi definida pela diretora como um intercâmbio artístico pela proteção das florestas e dos povos que moram na Amazônia Legal. O espetáculo foi protagonizado por Djuena Tikuna, uma das mais importantes vozes da música indígena, as Suraras do Tapajós, primeiro grupo de carimbó de mulheres indígenas, e Anelis Assumpção.
“O grande desejo da Concertação com o espetáculo — e também nossa estratégia para 2022 — é valorizar, disseminar e ecoar diferentes vozes artísticas da Amazônia para todo o país, com o objetivo de aproximar as culturas das cidades e das florestas”, conta Fernanda Rennó, facilitadora do Grupo de Trabalho de Cultura da Concertação. “A música tem um poder de engajamento e de mobilização inquestionável. O Ventanias, com um elenco de artistas tão potentes e de grande relevância, mobilizou e emocionou as pessoas com músicas que falam sobre o território e ancestralidade, demonstrando a complexidade das muitas Amazônias”, resume.
Em artigo no portal Ecoa, do UOL, além de celebrar a data dedicada à região, Fernanda reforçou a visão de que a arte e a cultura são imprescindíveis para “se mergulhar em um território tão vasto e complexo como a Amazônia Legal”. Segundo ela, são as manifestações culturais e artísticas que vão conectar os desejos, as expectativas e afinar o pensamento para que se possa pensar propostas estruturantes para a região.
Renata Piazzon, diretora de Mudanças Climáticas do Instituto Arapyaú, e Mônica Sodré, diretora executiva da RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), aproveitaram a data para alertar, em entrevista ao Estadão, o quanto a política ainda está descolada dos temas climáticos e ambientais e os esforços as duas iniciativas para colocar a Amazônia nessa agenda.
Em destaque, o conjunto de propostas para os cem primeiros dias dos governos eleitos, em preparação pela iniciativa Uma Concertação pela Amazônia. Baseado em uma agenda integrada de desenvolvimento para a região, o documento contempla atos normativos, já em forma de decretos, projetos de lei ou instruções normativas que podem ser rapidamente viabilizados. “Desde o início, a Concertação traz essa visão de desenvolvimento e esse olhar sistêmico para a região. As propostas que colocaremos na mesa vão muito além da redução do desmatamento. São propostas de saúde, educação, conectividade, segurança pública e economia”, afirmou Renata.
Mônica Sodré ressaltou o trabalho da RAPS para tratar a sustentabilidade para além de um viés apenas ambiental. Segundo ela, a rede está tentando mostrar, no Congresso e no Senado, que a Amazônia tem um papel central na equação climática do mundo e na nova geopolítica ambiental. “Precisamos de políticos mais preparados e mais próximos dessa agenda e também capazes de dialogar com o restante do mundo sobre ela”, defendeu. “Nessas eleições, temos uma oportunidade imensa de mostrar que esse é um assunto que importa e vai importar cada vez mais. São temas que precisam estar em todo o espectro político”.
Leia o artigo de Fernanda Rennó, no Ecoa, do UOL
Leia entrevista com Renata Piazzon e Mônica Sodré para o Estadão
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