No Arapyaú o ano de 2023 foi de consolidação das estratégias e reafirmação das vocações, com uma visão integrada dos dois biomas prioritários: Amazônia e Mata Atlântica. Esse é o mote do relatório anual que o instituto acaba de publicar.
Diferentemente de outros anos, o relatório não foi dividido em projetos. A ideia é apresentar uma narrativa visual e fluida, carregada de simbologia, em que as iniciativas aparecem entrelaçadas, independentemente do território onde foram implementadas. No fim, todas convergem para o mesmo modo de fazer e para o mesmo propósito: o desenvolvimento justo, inclusivo e de baixo carbono do país.
Por meio de um grande painel ilustrado, o relatório evidencia a integração Amazônia e Mata Atlântica. Como diz a diretora-geral do Arapyaú, Renata Piazzon, em sua carta de apresentação, essa integração é crucial porque aumenta o impacto das iniciativas e coloca a atuação do Arapyaú em outro patamar. “A experiência acumulada na Bahia em todos esses anos passa a ser valiosa para o que começamos a fazer na Amazônia e a abordagem de interação com as políticas públicas que já fomentamos na Amazônia pode catapultar as ações no nosso território de origem.”
Desde a sua criação, 16 anos atrás, o Instituto parte da crença de que ninguém faz nada sozinho. Mais que uma estratégia, a atuação em redes se tornou uma filosofia de trabalho que permeia todas as iniciativas do Arapyaú. Ao longo de sua trajetória, foram se acumulando um conjunto de experiências – práticas e teóricas – que oferecem insights valiosos sobre os processos envolvidos na formação, manutenção e emancipação de redes, bem como em sua governança.
O balanço de 2023 colocou em evidência a mais nova rede fomentada pelo Arapyaú. Batizada de Conexão Povos da Floresta, a iniciativa tem o objetivo de conectar 1 milhão de pessoas em mais de 5 mil comunidades até o final 2025, o que faz dela a maior iniciativa de conectividade entre povos indígenas, quilombolas e extrativistas em curso no Brasil.
“Sabemos que, além de abrir oportunidades para telemedicina, educação à distância, serviços financeiros e economia da floresta, a internet é fundamental para ajudar a proteger os territórios de invasores – esses, sim, totalmente conectados.”
Renata Piazzon, diretora-geral do Instituto Arapyaú.
Também teve destaque no relatório o novo ciclo da rede Uma Concertação pela Amazônia. Criada em 2020, a iniciativa iniciou no ano passado um processo de institucionalização, o que reafirma a relevância dessa articulação entre sociedade civil, academia e os setores público e privado pelo desenvolvimento sustentável do território.
Além de influenciar políticas públicas para a Amazônia, a Concertação também se mostrou um espaço poderoso para o surgimento de projetos estruturantes para o território. O mais relevante deles é o Itinerários Amazônicos, que oferece formação continuada a professores e conteúdo baseado em temas amazônicos para o Ensino Médio.
“O projeto traz uma roupagem nova, diferente de tudo o que a gente sempre viu, porque é voltado para nossa realidade de vida, da Amazônia. É um trabalho que vem abrindo portas, mudando visões e mudando vidas.”, conta Luiara dos Reis, professora de Ciências Biológicas na rede estadual do Acre.
No balanço do ano, as estratégias adotadas pelo Arapyaú explicitam a importância de sair do modelo de projetos isolados, que sempre norteou a filantropia no mundo inteiro, para se dedicar a ações estruturantes e mobilizadas por redes com o intuito de promover um impacto sistêmico. Essa visão está por trás do investimento no Itinerários Amazônicos e também no projeto “Estratégia para fortalecer CT&I em bioeconomia na Amazônia”, cujo objetivo final é elaborar um conjunto de propostas concretas para o avanço dessa agenda.
Em parceria com a Agni, a área de conhecimento do Arapyaú passou todo o ano de 2023 mergulhada no tema, sistematizando dados e identificando frentes prioritárias de atuação. A imersão partiu de uma escuta com mais de 70 pessoas, entre atores locais e especialistas em CT&I e bioeconomia de todo o Brasil, dos mais diversos setores: institutos de ciência e tecnologia e fundações de pesquisa, instituições acadêmicas, governos, empresas, bancos e organizações da sociedade civil.
“O Arapyaú embarcou nessa iniciativa porque ela tem um viés de bioeconomia, uma frente cada vez mais forte do instituto. Sabemos que sem ciência, tecnologia e inovação não teremos uma bioeconomia de base florestal robusta no Brasil”, explica Lívia Pagotto, gerente sênior de conhecimento do Instituto Arapyaú. “Esse é um esforço da filantropia para contribuir com uma economia muito alinhada com a natureza, que mantenha a floresta em pé. É uma junção muito feliz de dois temas que são muito importantes para o Arapyaú.”
Nesse contexto, o cacau ganhou ainda mais protagonismo no ano passado, deixando de ser uma iniciativa concentrada apenas no sul da Bahia. O instituto passa a atuar também na influência e co-construção de políticas públicas para a cadeia do cacau no Brasil.
“O Brasil tem todas as condições para restaurar áreas degradadas de pastagens com sistemas agroflorestais com cacau e aumentar sua participação no mercado internacional. O fato de ser produzido de forma inclusiva e sustentável nos coloca em uma posição de vantagem. Cerca de 80% da produção brasileira tem origem agroflorestal, o que gera benefícios ambientais, mitiga mudanças climáticas e conserva a biodiversidade”, conclui Vinicius Ahmar, gerente de estratégia para desenvolvimento sustentável do Arapyaú.