Em um dos painéis, por exemplo, a maior gestora de recursos mundiais declarou que o risco ambiental se tornou efetivamente um risco financeiro e que os temas da sustentabilidade e de mudanças climáticas devem ser chave em qualquer estratégia de investimento no caminho até 2030. Muitos investidores anunciaram que serão catalisadores de impacto positivo e que não será possível ser promissor na economia negando a agenda de mudanças climáticas — estimativas dão conta de que serão necessários entre US$ 5 trilhões e US$ 7 trilhões de investimentos anuais em diversos setores da economia, indústria e da sociedade para se atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável até 2030.
CEOs de grandes corporações também anunciaram a “década da ação”, da colaboração e da transparência e apontaram a necessidade de uma visão comum entre sociedade civil, setor privado e governos para que se chegue a um mundo com zero emissões de carbono. Era consenso entre as empresas presentes em Davos que esta é a década-chave para que ocorra uma mudança de nosso modelo mental, dos modelos econômicos e de como medimos performance e produtividade.
Alguns representantes de governos discutiram a adoção de medidas tangíveis, como a criação de um imposto sobre carbono e a imposição de tarifas para países ou produtos de acordo com as suas emissões de gases de efeito estufa. Entre os destaques da rodada de conversas, uma ganhou maior relevo por seu apelo superlativo: a campanha “One Trillion Trees” que propaga o plantio de 1 trilhão de árvores em dez anos.
Além do já tradicional encontro em Davos, todos os anos o Fórum Econômico publica o Relatório de Riscos Globais, documento feito por especialistas e consultores que analisa o panorama de riscos globais em nível macro e destaca as principais ameaças que podem perturbar o mundo, no caso, na próxima década. Em 2020, cinco dos dez riscos globais apontados para os próximos dez anos são relacionados à agenda ambiental. Entre eles, estão eventos extremos, falha no combate às mudanças climáticas, desastres naturais, perda da biodiversidade e desastres ambientais causados pela humanidade.
O relatório destaca ainda que a Amazônia já perdeu 17% do seu território e que, desde 2012, o índice anual de desmatamento na região vem crescendo. E mostra as consequências: caso sejam perdidos entre 20% e 25% da floresta, cientistas alertam que a Amazônia poderia ultrapassar o chamado “tipping point” (uma espécie de “ponto crítico”) e um ciclo de seca, incêndios florestais e perda de cobertura florestal e da biodiversidade chegaria a tal ponto que não haveria mais a possibilidade de ser revertido.
Diante do contexto e do risco associado à saúde humana e do planeta, o World Economic Forum deu destaque em Davos a um painel para assegurar o futuro sustentável da Amazônia, que recebeu especialistas internacionalmente reconhecidos como o climatologista brasileiro Carlos Nobre, o presidente da Colômbia Ivan Duque, a ambientalista Jane Goodall e Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos no governo de Bill Clinton (1993-2001). Carlos Nobre, além de reforçar os riscos relacionados à perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos da Amazônia, defendeu a necessidade de investimento e inovação para garantir a inclusão social e geração de renda a partir do maior potencial da Amazônia: a floresta em pé. Essa é a chamada agenda de bioeconomia, que tem ganhado força dentro da estratégia de combate ao desmatamento na região.
Davos mostrou que a crise climática é um assunto urgente e de interesse mundial não só da sociedade civil, mas de governos, empresas e, agora, dos investidores. Foi, sem dúvida, o pontapé inicial ao “super ano para o meio ambiente”, como tem sido chamado 2020 — ano em que teremos os principais eventos globais relacionados ao clima e questões ambientais: em junho, teremos o UN Ocean Conference; em setembro, a Climate Week em Nova York; em outubro, a Conferência de Biodiversidade (CBD), na China; e em novembro, mais uma edição da Conferência do Clima da ONU, a COP 26. Que seja mesmo um super ano!
Renata Piazzon tem mais de dez anos de experiência como advogada na área ambiental. Formada pela PUC-SP, Schumacher College e Amani Institute, é mestre em Direito Ambiental na área de finanças sustentáveis.