Neste ano, com um slogan direto e otimista – “Nós podemos, nós iremos” –, a 14ª edição da Climate Week, nos Estados Unidos, ganhou um senso de urgência, em especial para os brasileiros. Na mesma semana em que pessoas do mundo todo se reuniam em Nova York em busca de soluções para a emergência climática, os termômetros de várias cidades brasileiras marcavam recordes de altas temperaturas em pleno mês de setembro.
A Semana do Clima, que acontece todos os anos na cidade americana, conta com apoio das Nações Unidas e antecede a sua Assembleia Geral. Se por um lado as lideranças do Climate Group, organizador do encontro, ressaltam que muitas das soluções para uma descarbonização rápida já existem, também reconhecem que é preciso muito mais ação.
O resultado deste ano foi uma intensa troca entre líderes políticos e do setor privado, sociedade civil, representantes dos povos da floresta e filantropia. No centro financeiro do mundo, esses atores colocaram como um dos destaques nas discussões a necessidade de mecanismos de financiamento inovadores para levantar recursos para frear as mudanças climáticas. Temas como taxonomias para o mercado de green bonds, blended finance e práticas ESG foram assuntos que circularam de uma maneira mais crítica e aprofundada do que nos últimos anos.
Diferentemente da Conferência das Partes (COP), a Climate Week é um espaço que abrange temas mais amplos do que os das grandes negociações, fomentando um espaço de trocas de boas práticas e implementações. Por isso, ela é considerada estratégica para a organização e o direcionamento dos próximos passos da agenda climática.
“Esta foi minha 6ª Climate Week, e posso dizer que o protagonismo do setor privado em discutir a descarbonização da economia é algo novo”, observa Renata Piazzon, diretora-geral do Instituto Arapyaú. Como filantropia brasileira, o instituto teve como marca de sua atuação no encontro chamar o setor privado para o tema e indicar aos pares internacionais prioridades de investimentos que o Brasil precisa cumprir para conseguir construir o caminho para o desenvolvimento sustentável.
“Defendemos a agenda integrada de desenvolvimento para a Amazônia e a colaboração entre os setores público, privado e a sociedade civil, em um calendário que ultrapasse governos e com a urgência necessária para combater a crise climática”
Renata Piazzon, diretora-geral do Instituto Arapyaú
A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia levou para Nova York o documento “Propostas para as Amazônias: uma abordagem integradora”, lançado nos Diálogos Amazônicos, em Belém. Foi a primeira ação no cenário internacional de divulgação do texto que, ao abordar de forma mais integradora e inclusiva as várias Amazônias, propõe enquadrar e entender relações entre temas interdependentes para a construção de políticas, iniciativas e ações. São seis os temas prioritários: Bioeconomia; Ciência, Tecnologia e Inovação; Educação; Povos Indígenas e comunidades tradicionais; Saúde; e Segurança.
“Estamos engajados em reunir atores de diversos setores para levar a ideia de uma agenda integrada para o mundo. A Amazônia, como bem diz a liderança indígena Vanda Witoto, que também integra a Concertação, precisa ser vista além da perspectiva do satélite. Debaixo da copa das árvores há pessoas com demandas por todo tipo de política básica, de educação, saúde. Para que uma nova economia possa acontecer, ou para as bioeconomias acontecerem, é fundamental que essas condições estejam dadas”, afirma Lívia Pagotto, secretária-executiva da Concertação. Livia foi painelista em outras agendas em Nova York, como a Brazil Climate Summit e a Cúpula de Ciências da 78ª Assembleia da ONU.
A Climate Week reforçou ainda um ponto de não retorno no caminho rumo à diversidade, com comunidades indígenas, coletivos de juventude e representantes do movimento negro cada vez mais vocais na afirmação de que querem estar à mesa, construindo alternativas. O evento evidenciou o fortalecimento de identidades culturais como fator-chave para a compreensão das possíveis soluções para a crise climática também.
Se é o norte global que possui o potencial de alavancar os meios para transformar as indústrias que mais poluem, foi papel do sul mostrar o engajamento em ser protagonista dessa mudança estrutural. Nesse sentido, o Brasil atraiu as atenções do mundo com a apresentação do Plano de Transformação Ecológica. Anunciado pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, o programa baseia o crescimento econômico do País em pilares sustentáveis daqui para frente, com geração de renda e desenvolvimento social, enquanto mantém a maior floresta do mundo em pé.
Vinte anos depois do seu primeiro discurso na tradicional abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em que anunciou a redução do desmatamento na floresta amazônica nos primeiros meses de mandato, desta vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a falta de vontade política dos que governam o mundo para vencer a desigualdade. Segundo ele, “a comunidade internacional está mergulhada em um turbilhão de crises múltiplas e simultâneas” e “a desigualdade está na raiz desses fenômenos ou atua para agravá-los.”
Lula também sinalizou aos países do Ocidente que se comprometeram com contribuições de US$ 100 milhões anuais para a Amazônia que a promessa ainda não foi cumprida. Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos, afirmou o presidente, não há como implementar o que foi decidido no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade.