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Pacifista indiano, Satish Kumar, conversa sobre amor e ativismo com jovens brasileiros

Encontro da Juventude Ativista com Satish Kumar, em São Paulo. Crédito: acervo Instituto Arapyaú

Jovens ativistas pela causa climática tiveram um encontro inspirador com o pacifista indiano Satish Kumar. Em uma tarde repleta de histórias, eles puderam partilhar vivências e sonhos de um futuro com mais respeito pelas pessoas e pela natureza. Promovida pelo Instituto Arapyaú, em parceria com a Escola Schumacher Brasil, a conversa aconteceu no dia 10 de abril, em São Paulo. Satish veio ao país para assistir ao primeiro corte do filme “Amor Radical”, documentário de produção brasileira sobre sua vida, a ser lançado no segundo semestre do ano.

Satish nasceu em uma pequena aldeia na Índia, onde foi influenciado pelas tradições espirituais e filosóficas do hinduísmo. Desde cedo, desenvolveu um profundo respeito pela natureza e uma compreensão de que todas as coisas vivas estão conectadas. Essas crenças moldaram sua visão de mundo e o inspiraram a buscar a paz de maneiras grandiosas. Aos 9 anos, tornou-se monge jainista, dedicando-se à não violência. No entanto, se desiludiu com a vida monástica e, aos 18, deixou o mosteiro em busca de um caminho que unisse espiritualidade, ativismo e ecologia.

Em 1962, aos 26 anos, caminhou a pé por quase 13 mil km da Índia aos Estados Unidos, passando por países como Inglaterra e Rússia. Durante a viagem, que durou dois anos, promoveu a paz pelo mundo, a harmonia com o meio ambiente e pediu pelo fim das bombas nucleares.

Hoje, aos 87 anos, Satish Kumar partilha sua sabedoria, muito influenciada por pacifistas como Mahatma Gandhi e Martin Luther King, para aconselhar as novas gerações de que é possível ser agente de mudanças positivas em um mundo cada vez mais complexo e cheio de desafios. Ele acredita que devemos encontrar beleza na simplicidade e espalhar o amor diante das desigualdades, injustiças e guerras.

“O amor é negativo e positivo, é feito de altos e baixos e de todos os opostos. Se você quer ser um ativista feliz, aja por amor. A mudança acontece no momento em que você começa a mudar a si próprio. Seja a mudança que você quer ver no mundo. E, então, junte-se a outras pessoas. Um grande movimento é feito por muitos indivíduos”, disse Satish na roda de conversa que reuniu jovens ativistas vindos de comunidades indígenas e periféricas de várias regiões brasileiras.

Fellow do Instituto Arapyaú e diretora do Centro Brasileiro de Justiça Climática, a jornalista Andréia Louback Coutinho pôde relacionar as palavras de Satish com o trabalho feito pela filantropia, por meio da união de diversos agentes para formar redes transformadoras de maneira agregadora e amorosa.

“Nesse encontro maravilhoso, intimista e muito profundo, aprendemos que o ativismo nos convida para um lugar de amor e de afeto. Lutamos por melhorias, por políticas públicas e por ações no campo do afeto também, não apenas no campo político. O afeto é político. Queremos sobreviver com qualidade, amor, senso de comunidade, comunhão e sonhos. A jornada de Satish Kumar nos inspira nesse sentido, para espalharmos mais coletivamente nossa percepção de amor, esperança, fé, coragem e, sobretudo, de fúria pelo bem. Fico com esse aprendizado e também sinto gratidão por conhecer tantas trajetórias de jovens incríveis do Brasil”, avaliou Andréia.

Entre os conselhos dados pelo pacifista, estava a importância da comunicação no ativismo e seu poder para transformar realidades. “Aprenda a comunicar a mudança. Se você não sabe como falar com os donos de terras, não sabe como falar com os capitalistas, não sabe como falar com os racistas, então não poderá ter sucesso. Então, todos nós, seja por meio de canções ou da arte, de peças teatrais, protestos, manifestações, qualquer coisa, temos que aprender boas habilidades de comunicação”, afirmou Satish.

“Conheci uma pessoa tão inspiradora que carrega a palavra do amor na luta. Isso renova nossas energias para continuar falando de luta contra a injustiça, mas também acreditando que ela é feita com amor, com diálogo, através da paz”, afirmou o ativista Thiago Karai Djekupe, que pertence à comunidade indígena Jaraguá Pyngua.

Para Satish, é a cultura de Thiago que tem muito a ensinar. “Eu sempre digo que se você quer criar um modo de vida mais regenerativo, sustentável e natural, com sabedoria, rituais e experiência, você tem que aprender com a cultura indígena. Os indígenas têm beleza. Beleza tremenda, habilidade tremenda, sabedoria tremenda”, resumiu.

Assista um pouco do encontro aqui.

Giulie Carvalho

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