O desafio de Muñoz e Topping tem sido impulsionar ações de empresas, investidores, organizações, cidades e regiões sobre a mudança climática e coordenar esse trabalho com governos. O papel dos campeões da ação climática foi criado em 2015 nas negociações sobre o clima em Paris para ajudar a concretizar as ambições de atores não estatais em reduzir as emissões de carbono e construir resiliência às mudanças climáticas.
Nigel Topping foi CEO do We Mean Business até dezembro de 2019, oportunidade na qual conduziu uma importante coalizão para a agenda climática, que destacou as vozes do setor empresarial em apoio ao Acordo de Paris e visou a acelerar a transição para uma economia com carbono zero. Muñoz é co-fundador da TriCiclos, Sistema B e Polkura, e busca promover mudanças sociais na vanguarda da inovação ambiental no Chile e demais países da América Latina.
Ambos destacaram a importância da adesão crescente do setor privado às mudanças, uma vez que mais de 62% do PIB mundial estaria comprometido com a neutralidade de carbono, e da participação do setor financeiro na criação de mecanismos de financiamento para as empresas, alinhados aos desafios climáticos.
Outra participante da plenária, Liz Davidson, representante da Embaixada do Reino Unido no Brasil, disse que um dos objetivos do país que presidirá a COP26 é conseguir compromissos de redução de emissões das nações. Apesar de elogiar a meta climática apresentada pelo Brasil em dezembro de 2020, chamou a atenção pelo fato de que “não vimos ainda um plano concreto e transparente de como o Brasil planeja cumprir a meta de emissões zero para 2060”.
Brasil e a preservação da Amazônia
O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, reforçou que para a comunidade internacional o Brasil hoje é sinônimo de Amazônia, e que esta conotação negativa dada ao país, atualmente, “não foi sempre assim, nem será assim para sempre”, “é do interesse do Brasil a preservação da Amazônia. Existe muita energia para a mudança no Congresso, no mundo empresarial na academia e no terceiro setor ”.
Fraga traçou um cenário sobre a Amazônia a partir de seis pontos concebidos com o economista Juliano Assunção, professor da PUC-Rio, diretor da Climate Policy Initiative (CPI) e um estudioso do tema. Entre eles, está a viabilidade do agronegócio sem a necessidade de desmatamento e a criação de uma meta ambiciosa de reflorestamento. Ele também destacou, por exemplo, a criação de um “bureau verde” no Banco Central para monitorar o compromisso assumido pelas empresas com a sustentabilidade e uma posterior “premiação” no acesso a empréstimos, para as que se destacarem, uma proposta em consulta pública.
O encontro contou, ainda, com a participação da senadora Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que convidou os participantes da plenária a contribuir com a casa legislativa para criar um posicionamento comum do Brasil sobre a questão do clima para a COP26, e do senador Eduardo Braga. Ambos destacaram que o governo, o Congresso Nacional, a Justiça brasileira e a população estão absorvidos pela pandemia e que não há espaço político para qualquer outro debate.
De todo modo, a senadora Kátia Abreu trouxe que “essa bandeira não é mais uma bandeira de alguns ambientalistas, mas é uma bandeira universal, uma bandeira de toda a população mundial que está preocupada com aquecimento global e as mudanças climáticas com a devastação das florestas”.
Para Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, o importante é desenvolver uma pauta objetiva que possa ser construída a partir dos conteúdos gerados nos grupos de trabalho da Concertação pela Amazônia. “Precisamos de uma operação de convergência, não necessariamente de consensos, mas de convergências, porque a polarização, como foi dito aqui, não vai ajudar ninguém”, afirmou. “O diálogo da sociedade com o Senado está olhando a COP26, mas também está olhando de fato a imagem do Brasil”.
Roberto Waack, presidente do conselho do Instituto Arapyaú e integrante da Concertação pela Amazônia, também completou: “A concentração tem sido esse veículo de diálogo amplo e transparente de construção de caminhos para o desenvolvimento sustentável da região”.
Artista visual Wapichana
A plenária contou com a participação de Gustavo Caboco, artista visual Wapichana, que trabalha na rede Paraná-Roraima e nos caminhos de retorno à terra indígena Canauanim. Sua pesquisa se produz nos encontros com os parentes e é apresentada por meio de desenhos, bordados, textos, vídeos, murais, performances e objetos.
No encontro, Caboco destacou o quarto item da Carta Climática elaborada pelas Autoridades Tradicionais de diferentes povos indígenas de todas as partes do mundo, que compõem a Minga Indígena para a COP25: “Que a Mãe Terra seja reconhecida e declarada como um sujeito de direitos, porque para nós os efeitos da crise climática nada mais é do que o grito de socorro da Terra”.
Para o artista, “quando a gente fala da Terra com letra maiúscula, essa relação ampla do território, do sujeito que vive nesse território, e a gente pensa a floresta como sujeito, então a gente entende que quando uma amiga Amazônia grita, somos todos nós então a gritar”.
Saiba mais sobre a trajetória de Gustavo Caboco aqui: https://caboco.tv/.
“A minha trajetória e pesquisa de retorno à origem indígena guiam o processo de produção nas artes visuais. Nasci na capital paranaense e cresci num ambiente urbano com as histórias da minha mãe: uma Wapichana, da terra indígena Canauanim, do município de Cantá – Boa Vista, Roraima. Lucilene saiu da aldeia aos 10 anos de idade, em 1968, e suas histórias, sementes, que a acompanham, em conjunto com o retorno que realizamos em 2001, onde fui apresentado à minha avó e familiares indígenas, traçaram o meu destino como artista. Encontrei no desenho, no texto, no bordado, no som, na escuta e no Caboco formas de dialogar com as atualidades indígenas e identidade indígena.” – Gustavo Caboco