“Nada é por nós sem nós.” Com esta frase, usada por vários movimentos a favor da inclusão, Samela Sateré Mawé costuma destacar a importância do protagonismo indígena nas discussões sobre a Amazônia. Atento a esta perspectiva, o Instituto Arapyaú convidou a ativista indígena para fazer parte de seu Programa de Fellows, abrindo mais espaço para a diversidade e o aporte de conhecimento. “Ser essa representatividade jovem, mulher, indígena e amazônida no programa é muito importante e empoderador”, afirma Samela.
Nascida em 1996, em Manaus, Samela faz parte da terceira geração de uma família em que as mulheres lutam pelos direitos indígenas. Sua avó, Zenilda Sateré Mawé, fundou a Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé (AMISM), na Zona Oeste de Manaus, que coordenou grandes movimentos, como a luta por reserva de vagas para indígenas na universidade, institucionalizada em 2004 no estado do Amazonas.
Estudante de biologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Samela compõe o quadro brasileiro do Fridays For Future (movimento fundado pela sueca Greta Thunberg), faz parte da equipe de comunicação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).
Como fellow do Arapyaú, Samela dará continuidade a um trabalho iniciado na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021), em Glasgow, na Escócia, ao lado da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia. Seu foco, neste primeiro momento, está em uma releitura sob a perspectiva indígena do documento “Uma Agenda pelo Desenvolvimento da Amazônia”, apresentado pela iniciativa na conferência.
A carta foi construída por um olhar plural, formado por cientistas, ambientalistas, empresários, sociedade civil. Mas vamos deixar mais clara a concepção indígena da Amazônia para a Concertação. Não tem como falar de floresta em pé e de Amazônia viva sem levar em consideração nosso povo, nós, que vivemos lá”
Samela Sateré Mawé
O Programa de Fellows do Arapyaú foi criado em 2021. Em linha com o posicionamento do Instituto de ser um fomentador de redes transformadoras, o programa tem sido crucial para o aporte de conhecimento e para o fortalecimento dessas redes. Os atuais fellows do Arapyaú são Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e co-chair do Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU Meio Ambiente (IRP/UNEP); Francisco Gaetani, ex-secretário executivo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e professor da Ebape/FGV; e Marcello Brito, CEO da CBKK, investidora de impacto que tem a De Mendes Chocolates como uma de suas associadas, e ex-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG). Com a chegada de Samela, o Instituto reforça o programa e amplia sua interlocução com o público jovem e com indígenas.