Seminário reúne experiências em educação na pandemia

Os desafios na educação durante a pandemia foram enormes e as redes de ensino tiveram de se adaptar rapidamente para continuar a oferecer aos estudantes atividades pedagógicas e, mais que isso, promover o engajamento a distância entre professores, alunos e famílias. Tornar a escola presente mesmo a distância, foi uma busca constante. Com as redes do sul da Bahia, que participam do Plano Compromisso com a Educação Pública, implementado em Una e Uruçuca pelo Instituto Arapyaú, não foi diferente. 

Em dezembro, os profissionais das duas redes participaram do Seminário Interterritorial realizado pelo Instituto Chapada, o ICEP, que reuniu de forma virtual professores, diretores e coordenadores pedagógicos de 30 municípios baianos parceiros, com o intuito de partilhar as experiências e aprendizados no período de pandemia. O seminário marcou o encerramento do percurso formativo de 2020, que faz parte do Plano Compromisso com a Educação Pública. Ao longo de todo o ano, foram realizados 100 encontros de formação com os profissionais de educação, de forma virtual, envolvendo em torno de 500 pessoas dos dois municípios. 

No evento, as redes demonstraram como foram importantes as atividades online. Uruçuca apresentou a experiência “Literatura e sua função Humanizadora”, que apostou na leitura de clássicos da literatura por alunos, professores e até mesmo as famílias na principal rádio da cidade. A ação envolveu desde a discussão para a escolha dos clássicos, o empréstimo de livros aos alunos, pais e profissionais da educação, além de uma atividade envolvendo as crianças na recontagem da história, por meio de áudio ou vídeo enviado aos professores. 

A coordenadora da Escola Maria de Freitas Neves, em Uruçuca, Adriana Aparecida Santos de Oliveira Lopes, diz que o projeto de leitura na rádio surgiu de uma inquietação em relação à pandemia: como alcançar meninos e meninas que estavam longe da escola, principalmente aqueles sem acesso ao celular e à internet? Veio então a ideia dos professores se comunicarem por meio da rádio local, e alcançar o máximo de estudantes que pudessem. A surpresa, porém, foi a atração quase instantânea das famílias, comunidade e até ex-alunos da escola pelo projeto. Em 2021, o projeto continuará fazendo parte da educação de Uruçuca.  

Não queríamos perder o vínculo com a família e com as crianças, queríamos levar a escola para dentro de casa e de uma forma leve, com a leveza da leitura. O trabalho caiu na graça da comunidade. Pais e mães também quiseram fazer parte e passaram a chamar outros membros. O que era só para as crianças tomou conta e contagiou outras pessoas na formação leitora.”

Adriana Lopes, coordenadora da Escola Maria de Freitas Neves, em Uruçuca.
Seminário reúne experiências em educação na pandemia
Em Uruçuca, o projeto Literatura Humanizadora levou professores, alunos e famílias à rádio local para a leitura de clássicos. Na foto, a diretora Telma Medrado de Souza Almeida.

Em Una, fizeram diferença neste período as Tertúlias Dialógicas, também com clássicos da literatura nacional e internacional. Foram realizados vários encontros que envolveram desde professores, alunos e famílias até os funcionários de apoio das escolas (merendeira, porteiro e outros). Entre a equipe de profissionais que trabalham com as escolas do campo, em março, 70% do grupo não tinham lido nenhum livro em 2020, e em novembro esse percentual caiu para 33%. 

A leitura foi um importante elo de integração nos municípios. Não só alunos, professores, diretores e coordenadores se envolveram, mas as equipes de apoio e a comunidade também, o que foi fortalecendo o grupo.”

Carolina Paseto, do Instituto Arapyaú.

A coordenadora das escolas de campo da Secretaria de Educação de Una, Elisabele Dantas Santana, conta que os encontros da Tertúlia com os profissionais das escolas rurais tiveram 100% de participação e que muitos descobriram pela primeira vez a leitura de obras clássicas. 

Nesses encontros, de modo remoto, descobrimos um espaço de escuta igualitária, respeito e confiança que nos possibilitou a transformação social que é tão desejada e pensada na educação. Reconhecemos que somos leitores, que a leitura não precisa ser sozinha e quanto mais tivermos outros atores realizando a leitura ela é transformada e ressignificada. Professores que não tinham internet em casa, saíam em busca de sinal só para participar. Ficou um sentimento de aprendizado com a tertúlia, que vamos levar para o resto da vida.” 

Elisabele Dantas Santana, coordenadora das escolas de campo da Secretaria de Educação de Una.