Uma Concertação pela Amazônia discute o impacto de grandes obras de infraestrutura na região

Uma Concertação pela Amazônia discute o impacto de grandes obras de infraestrutura na região
Arte de Rui Machado

O terceiro webinar da Concertação pela Amazônia, realizado em 10 de novembro, discutiu o tema da infraestrutura na região. As convidadas Daniela Gomes, coordenadora do Programa de Desenvolvimento Local da FGV, Ana Paula dos Santos, professora da Universidade Federal do Pará, e Dionéia Ferreira, articuladora da Rede Transdisciplinar da Amazônia, partilharam aprendizados e reflexões a partir das experiências das construções da usina de Belo Monte e da rodovia BR-319.

“No coração da discussão sobre a infraestrutura, temos que repensar qual modelo de desenvolvimento que queremos e considerar alternativas mais inteligentes, que possam investir na economia da floresta, e que respeitem as finalidades dos territórios amazônicos”, analisou Daniela Gomes. “Esses grandes projetos criam um caos socioambiental na região porque são desenhados sem nenhuma consideração com os territórios”, completou.

Para Ana Paula dos Santos, é uma ilusão achar que quando uma grande obra de infraestrutura termina os problemas socioambientais estão resolvidos e que ficam apenas os benefícios. “Tivemos aqui uma mobilização interessante, quando terminou Belo Monte, que incluiu agricultores familiares, quilombolas, indígenas, dirigentes de universidades e os próprios órgãos públicos”, disse ela.

A consequência da união da diversidade social e das organizações em torno de uma discussão maior resultou na destinação de parte do investimento do projeto para a formulação de um plano de desenvolvimento regional. “Foi separado parte do dinheiro da obra de Belo Monte para proporcionar a reflexão do que a sociedade local realmente queria fazer”, disse Ana Paula.

No caso da BR 319, a obra tem um impacto muito diferente daquela de uma usina hidrelétrica. Se por um lado há uma expectativa de ampliação do direito de ir e vir, a estrada provoca uma mudança da estrutura sociocultural e socioambiental da região, criando uma diferença no modo como as populações locais enfrentam esse processo.

“A BR 319 está localizada numa região do Amazonas que é palco de grande tensão em função da expansão da fronteira agropecuária”, explica Dionéia Ferreira. “Não há uma unidade de pensamento, você não tem uma concertação”. Por outro lado, existe também a visão da importância de manutenção e conservação da biodiversidade do território.

Neste contexto de conflito, nasceu o arranjo da Rede Transdisciplinar da Amazônia (Reta), que reuniu as comunidades e organizações de base que estavam ao longo da estrada no trecho norte da BR 319. “A Reta surge da necessidade de mudar a narrativa que se tinha no local de que o meio ambiente atrapalhava o desenvolvimento e que a estrada não saía por causa disso”, conta Dionéia. 

Durante a terceira edição do webinar promovido pela Concertação, no qual todo este debate aconteceu, ainda foi possível conhecer o trabalho artístico da cantora amazonense Socorro Lira. Suas músicas “Calme” e “Deixa Viver”, do álbum “Amazônia: entre Águas e Desertos”, e “Meu boi caiu”, do álbum “Cantigas”, foram usadas como trilha sonora para a abertura do evento. Isso dá início a mais um importante passo da iniciativa, que pretende incorporar manifestações artísticas de origem amazônica em suas agendas e comunicações, com a proposta de valorizar e disseminar a cultura da região.

O movimento Uma Concertação pela Amazônia – rede de pessoas, entidades e empresas formada para buscar soluções para a conservação e o desenvolvimento sustentável da Amazônia – segue em seu compromisso de abrir espaços de diálogo. Com um grupo de mais de 200 lideranças, tem buscado criar um ambiente de troca democrática e convergente das dezenas de iniciativas em defesa da Amazônia. “A iniciativa tem como objetivo institucionalizar a discussão da Amazônia na sociedade brasileira, de ser uma plataforma de engajamento. Ela é um espaço de conteúdo positivo sobre o Brasil”, define Roberto Waack, um dos idealizadores do movimento e presidente do Conselho do Instituto Arapyaú.

Para acessar os materiais do movimento acesse pagina22.com.br/uma-concertacao-pela-amazonia/. Leia também: Amazônia: desenvolvimento para quem?