A iniciativa Amazônia Possível realizou na última quarta-feira, 11/12, seu segundo painel de debates no Brazil Climate Action Hub, o espaço dedicado às discussões sobre os desafios da ação climática no contexto brasileiro, na COP25. Empresas com forte atuação na Amazônia apresentaram “cases” de exploração econômica sustentável da floresta. Foram apresentadas iniciativas da Votorantim Cimentos, com o uso do caroço de açaí como substituto ao coque de petróleo; da Ambev, com o Guaraná Antárctica; e da Natura, com a linha Ekos.
Ao apresentar o case da Natura, o gerente sênior de Sustentabilidade da empresa, Keyvan Macedo, revelou que 18% das matérias primas dos produtos da fabricante de cosméticos são da Amazônia. “A linha Ekos, lançada em 2000, é a prova de que podemos valorizar o desenvolvimento econômico sustentável da região”. Atualmente, a cadeia de produção da Natura envolve 5 mil famílias. “Há muita dificuldade, mas também há prosperidade para todas essas famílias”, disse.
O guaraná, hoje produzido na região de Maués, no interior da floresta amazônica, foi o exemplo de case de sucesso apresentado pela Ambev. “Desenvolvemos as mudas do guaraná na nossa fazenda e distribuímos para mais de 2 mil famílias, que são os fornecedores do guaraná para nossas fábricas”, explicou Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de Sustentabilidade e Suprimentos da Ambev. Ele destacou o investimento em capacitação técnica dos agricultores da região, que, em cerca de 10 anos, permitiu dobrar a capacidade de produção e nos últimos dois anos (2018 e 2019) foi responsável por um incremento de 50% na lucratividade dos produtores locais.
Fabio Cirilo, consultor de Ecoeficiência da Votorantim Cimentos, contou como a empresa está usando o caroço de açaí para substituir o combustível fóssil nos fornos de cimento. “Hoje, já diminuímos em 37% o uso do coque de petróleo, importado dos EUA, por biomassa de caroço. Esse produto era descartado pelos agricultores e hoje contribui para uma efetiva diminuição da produção de gases do efeito estufa na nossa cadeia”, comemorou ele, destacando ainda que a opção tem um importante viés econômico. “Levar combustível fóssil para dentro da floresta é muito difícil e caro. Hoje, o açaí faz parte do nosso negócio e da nossa história”, completou.
Também participaram do painel André Guimarães, diretor executivo da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e Renata Piazzon, líder do Programa Mudanças Climáticas do Instituto Arapyaú.
Na abertura do painel, Guimarães destacou os princípios do Amazônia Possível: “Vamos combater qualquer tipo de ilegalidade na Amazônia, como a grilagem e a devastação, e também olhar para frente, incentivando a atividade econômica com cadeias produtivas sustentáveis”. Marina Grossi destacou a importância da Coalizão, lembrando o alto nível de complexidade dos problemas que afligem a Amazônia. “As grandes empresas sozinhas não vão conseguir enfrentar esses problemas, precisamos de ações propositivas de vários setores da sociedade. E trabalhar para acabar com o desmatamento ilegal e diminuir gradativamente o legal, até que ele também acabe”, afirmou.
Após a apresentação dos cases, Renata Piazzon, do Arapyaú, apresentou os resultados de um levantamento feito com mais de 20 grandes empresas com negócios na Amazônia, realizada pela Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura; Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS); Instituto Arapyaú e Pacto Global, membros da iniciativa Amazônia Possível. Das empresas ouvidas, 85% têm operação direta e 11% indireta no bioma amazônico, 19% já investiram mais de US$ 250 milhões na região e 23% delas geram mais de mil empregos.
Piazzon também apresentou uma proposta com 10 princípios fundamentais para o desenvolvimento sustentável da Amazônia (além de conhecer os princípios, no link é possível fazer sugestões, que serão recebidas até o último dia de janeiro de 2020). “Agora, abrimos um período de consulta. A partir das observações iremos elaborar a versão final dos princípios, que será submetida às empresas para que formalizem seu compromisso com o desenvolvimento sustentável da floresta”, explicou.
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