Depois de mais um alerta contundente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima da ONU (IPCC), dando contornos de urgência à escalada de aquecimento do planeta, a rede de cientistas do MapBiomas lançou uma série inédita de dados sobre o impacto do fogo nos biomas do Brasil – fenômeno diretamente ligado ao volume de emissões de gases-estufa do país.
Uma análise inédita de imagens de satélite entre 1985 e 2020 mostra que, ao longo dessas três décadas, o país queimou uma área de mais de 150 mil km² por ano, quase 2% de todo o território nacional – o equivalente a uma Inglaterra a cada 12 meses. Se considerado o acumulado de áreas queimadas nesses 36 anos, a perda chega a quase 20% da extensão do Brasil. Os pesquisadores também identificaram que 65% da área total queimada nesse período foi de vegetação nativa. O restante, 35%, ocorreu em áreas agrícolas e pastagens. Do ponto de vista dos biomas, o Pantanal foi o mais prejudicado.
Outro dado importante diz respeito à frequência com que os biomas foram submetidos ao fogo de lá para cá: 61% das áreas foram queimadas duas vezes ou mais. Na Amazônia, por exemplo, mais da metade da área incendiada se encaixa nesse recorte: queimou mais de uma vez ao longo do tempo.
Tasso Azevedo, engenheiro florestal e coordenador do MapBiomas, explica que os dados levantados podem subsidiar políticas de combate ao fogo no curto e no longo prazos, já que os mapas indicam a distribuição e a frequência dos incêndios nas diferentes partes do país. “É bem interessante essa percepção de que o fogo tem os seus lugares. O que é importante também para o planejamento, inclusive para o combate, e uso da energia que temos para o combate”, explica.
Para chegar aos números, a equipe do MapBiomas processou mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de 1985 a 2020. Com auxílio de ferramentas de inteligência artificial, a área queimada do país foi analisada em um recorte de 30metros x 30metros. Ao todo, foram 108 terabytes de imagens processadas para evidenciar as áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo ao longo dos 8,5 milhões de km² de extensão do país.
No momento em que o MapBiomas se consolida como uma das mais precisas fontes primárias de dados e análises sobre a mudança de uso da terra no Brasil, a ONU também aponta a escalada global das mudanças climáticas, o ritmo acelerado de consequências em curso, e o imperativo de corte de emissões no curto prazo. No começo do mês, o IPCC, que reúne cerca de 14 mil cientistas em todo o mundo, quantificou o peso da ação humana sobre a dinâmica climática do planeta. Segundo o quinto relatório da entidade, a ação do homem levou a um aumento de cerca de 1°C na temperatura da Terra no último século. O limite tido como seguro de aumento da temperatura do planeta até 2050, de 1,5°C, conforme preconiza o Acordo do Clima de Paris, será atingido já em 2040, afirmam os cientistas.
Saiba mais sobre a série MapBiomas Fogo.
Assista abaixo ao vídeo de apresentação dos dados: