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Sul da Bahia: bons ventos na educação e fortalecimento do cacau

Foto: Acervo Secretaria de Educação de Una

Em um ano em que a evasão escolar atingiu índices alarmantes no Brasil, com 5 milhões de alunos fora das escolas, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Arapyaú usou sua força de mobilização de redes para reduzir esses impactos e trazer novas perspectivas para a educação no sul da Bahia. Mesmo com os desafios impostos pela pandemia, especialmente de conectividade, os estudantes dos municípios onde o Instituto atua puderam assistir aulas online e os professores seguiram fazendo capacitações, em um esforço para evitar e reduzir a evasão.  

Na área de educação, o ano terminou com duas notícias emblemáticas: o investimento de parceiros para a conclusão da Nova Escola, no distrito de Serra Grande, em Uruçuca, e a chegada à região do Itaú Social, com programas de educação em 16 municípios do território. “O grande destaque de 2021 foi o poder de convocação e diálogo do Arapyaú, trazendo diversos atores em torno de interesses comuns. A Bahia conseguiu uma grande notoriedade mesmo em um ano difícil, de pandemia. Parceiros e organizações entenderam a oportunidade de participar de projetos de grande potencial”, avalia o gerente do programa Desenvolvimento Territorial do Sul da Bahia do Instituto Arapyaú, Ricardo Gomes. 

No Centro Integrado de Educação Integral (CIEI), mais conhecido como Nova Escola, dois novos parceiros – Teresa Bracher e João Pedro Solano – colocam o projeto que nasceu em 2012 a poucos passos da conclusão, podendo inspirar outras iniciativas do gênero, de escolas públicas de qualidade que contam com a parceria privada. A dupla está financiando o paisagismo e mobiliário da escola, localizada na comunidade de Serra Grande. A entrega está prevista para o primeiro semestre do próximo ano. A escola, que contou com a parceria do Arapyaú desde o começo, abrigará os estudantes, professores e funcionários de duas instituições públicas existentes da comunidade. 

Carolina Paseto, coordenadora de Educação do Instituto Arapyaú, diz que, além de acelerarem a entrega, as parcerias trazem um fôlego para que o Arapyaú possa pensar mais projetos para o próximo ano. 

Outro marco de 2021 foi a chegada à região do Itaú Social, em uma parceria articulada pelo Arapyaú. Dezesseis cidades do sul da Bahia – quatro delas onde o Arapyaú já atua – foram selecionadas pelo Edital Melhoria da Educação, programa do Itaú Social. “A chegada do Itaú Social é um movimento inédito. Muitas instituições de educação olhavam apenas para municípios maiores. O Arapyaú sempre quis ter mais parceiros na região, mas a realidade é que os municípios são pequenos e não havia projetos que os contemplassem”, afirma Carolina. “Antes do Itaú, o Arapyaú era o único instituto atuando em educação na região. Agora, essa área de cobertura se amplia e potencializa os resultados”, afirma Carolina.  

Com duração de três anos, o programa Melhoria da Educação foi reestruturado em 2020, passando a abranger também municípios de médio porte e arranjos, que reúnem as pequenas cidades. O programa é estruturado para entender as demandas educacionais do município e construir um plano de ação para saná-las, colocando tecnologias da educação à disposição para a melhoria dos indicadores. 

A principal demanda da região é ter apoio para acompanhar as aprendizagens, especialmente nesse momento de retomada das atividades presenciais. Entre as ações já planejadas está a formação de professores e de coordenadores pedagógicos para esse fim.  

Cacau

Na frente do cacau, o ano também reforçou a vocação do Arapyaú para mobilizar redes em prol do fortalecimento da cadeia e da excelência da produção. Neste mês, veio o reconhecimento internacional em dose dupla, com dois produtores do sul da Bahia (e um terceiro, do Pará) finalistas de um dos mais importantes prêmios da área, o Cocoa of Excellence (leia mais em: Concurso internacional de cacau de qualidade premia três amêndoas brasileiras). Em novembro, o Concurso Nacional de Qualidade do Cacau Especial do Brasil, que está em sua terceira edição, já havia premiado as melhores amêndoas produzidas no país – o primeiro lugar ficou para uma produtora de Itabuna. 

Os prêmios coroaram um trabalho de valorização do produto que vem sendo feito na região nos últimos anos e que conta com o apoio do Arapyaú desde o começo. Dentro dessa lógica, está a iniciativa do Consórcio CBE (Cacau Bahia Especial), que reúne médios e grandes cacauicultores com a missão de melhorar a reputação do cacau baiano e qualificar o modelo de negócio da região. Três anos depois, a iniciativa já rendeu bons frutos: o grupo vendeu neste ano 45 toneladas de cacau especial, com um prêmio de 30%.

Outras articulações pela melhoria e fortalecimento da cadeia do cacau mereceram destaque em 2021, como a prototipagem e operação de um seguro paramétrico inédito, primeiro projeto de mitigação dos impactos das mudanças climáticas sobre o cacau no Brasil; a realização do inventário de carbono na cabruca, etapa fundamental para a estruturação de PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) que será realizada no próximo ano; e o financiamento de mais de 150 agricultores familiares por meio de recursos captados no fim de 2020 com uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). A operação foi estruturada no formato de financiamento misto, que conta com investidores de mercado e com aportes de filantropia, que assumem a maior parte do risco. Até aqui, a taxa de inadimplência é zero. 

Com a incorporação de dados de diversos setores, o Estudo de Viabilidade Econômica da Produção de Cacau organizado pela iniciativa CocoaAction Brasil, pelo Instituto Arapyaú e pelo WRI Brasil, foi assumido como oficial pela cadeia cacaueira do país e poderá ser utilizado para nortear a criação de políticas públicas, abertura de linhas de crédito e outros incentivos para que a produção cresça no país. O estudo mostra que o cacau é uma das principais culturas capazes de conciliar produção sustentável com retorno financeiro. 

No caso do seguro paramétrico, coube ao Arapyaú a definição dos parâmetros utilizados e a articulação com os produtores assegurados. O ineditismo deste seguro está na criação de uma ferramenta que utiliza o volume de chuvas e outros dados meteorológicos como indicadores de risco para o contrato entre seguradora e agricultores. O objetivo é evitar estragos como o causado pela seca entre 2014 e 2016, que comprometeu milhares de hectares produtivos.   

Outra inovação da apólice é o lastro sustentável, com indicadores de sustentabilidade para financiar o pagamento do prêmio do seguro com crédito de carbono. A ferramenta estima a quantidade de carbono contida em uma propriedade rural e, em seguida, fomenta a venda desse crédito de carbono para empresas. O dinheiro da compra, que fica retido na seguradora, é pago ao produtor rural caso aconteça um sinistro, como secas intensas ou grande volume de chuvas, mesmo que não causem danos físicos à produção. O Instituto Arapyaú e a Dengo Chocolates compraram os créditos de carbono necessários para a operação começar a funcionar.   

A operação foi testada entre agosto e novembro e assegurou propriedades que somam uma área de 150 hectares. O mecanismo se mostrou viável, mesmo que as indenizações não tenham sido necessárias neste período, e a repercussão tem sido grande. “Há uma procura tanto dos agricultores para serem incluídos na próxima edição, como das empresas, no intuito de neutralizarem suas pegadas de carbono. Tem tudo para conseguirmos ampliar no próximo ano”, diz Grazielle Cardoso, analista do Arapyaú no Programa Desenvolvimento Territorial do Sul da Bahia. 

Formalização da ADR

A Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) do Sul da Bahia é uma iniciativa da sociedade civil, com participação do Arapyaú, criada com o objetivo de formular e fomentar um programa de desenvolvimento sustentável da Costa do Cacau (Ilhéus, Una, Uruçuca, Itacaré, Canavieiras e Itabuna). Este ano a iniciativa foi formalizada e teve sua governança definida.

A agência promove o encontro entre atores comprometidos com o território, dentre eles a universidades estadual e federal do Sul da Bahia, a Associação dos Municípios da Região Cacaueira (Amurc), representantes da sociedade civil, o Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia (PCTSul), empresas e organizações filantrópicas.

“Muitos parceiros veem a ADR como uma oportunidade de potencializar o impacto positivo em suas agendas próprias de sustentabilidade. Há muita convergência de interesses desses diversos atores em favor do território, pela melhoria de vida das pessoas”, afirma Ricardo Gomes, presidente interino da ADR do Sul da Bahia Global.  

A atuação prioritária da agência, que é representada por diversos segmentos da sociedade, é articular iniciativas na área educacional, ambiental, econômica, paisagística e de infraestrutura na região em que atua. Especificamente no sul da Bahia, isso se traduz principalmente em potencializar esforços na educação pública, trabalhar no apoio à gestão municipal e fortalecer a cadeia produtiva do cacau como forma de melhorar a vida da população, sobretudo a do campo.  

Neste ano de troca de gestão municipal, a ADR firmou parceria com prefeituras de quatro municípios do sul da Bahia – Ilhéus, Itabuna, Uruçuca e Una – para ajudar a gestão pública a identificar seus principais desafios e, a partir daí, planejar ações para soluções rápidas. Para o ano que vem, a expectativa é criar uma estrutura de inteligência capaz de monitorar as ações do território e apresentar métricas sobre os diferentes projetos desenvolvidos. 

Carmen Guerreiro

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